Da teoria para a prática: treinamentos que salvam vidas

Publicado em: 23/08/2018

Após ter aulas de primeiros socorros, funcionárias da Central de Convênios realizam salvamento emergencial em duas cidades

 

Cintia Andrade da Costa e a equipe da USF Recreio da Borda do Campo, em Santo André

Dia 20 de julho, uma sexta-feira, Cintia Andrade da Costa, há três anos Agente Comunitária de Saúde (ACS) da Unidade de Saúde da Família (USF) Recreio da Borda do Campo, em Santo André, aguardava o ônibus para ir trabalhar — como todos os dias. De repente, foi surpreendida ao ver uma senhora de 78 anos cair bruscamente no quintal de uma casa próxima ao local. Para a sorte da idosa, um mês antes Cintia havia participado de um curso de primeiros socorros ministrado pelo Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) da Central de Convênios, da Fundação do ABC.

Sem titubear, Cintia correu ao local e conseguiu pôr em prática os conhecimentos adquiridos no treinamento para prestar assistência adequada a paciente. A queda provocou um corte extenso no joelho direito, escoriações no braço e uma pancada na cabeça. A funcionária fez procedimento imediato de compressão do ferimento, utilizado para estancar o sangue, imobilizou a perna com um papelão — para simular uma espécie de tala — e enfaixou a perna da paciente até chegar socorro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). No hospital, a idosa levou 10 pontos, e felizmente não teve fraturas.

A técnica utilizada pela ACS parece simples. Porém, tem fundamental importância para estabilização do quadro clínico. Caso o atendimento não tivesse seguido protocolos seguros, as chances de ocorrer infecções ou fraturas seriam bem maiores, especialmente em idosos. O objetivo do atendimento de primeiros socorros é, justamente, tentar evitar a piora do quadro de saúde e manter os sinais vitais do paciente. Os procedimentos, no entanto, são apenas iniciais e paliativos. O socorro especializado deve ser acionado imediatamente para assumir o atendimento.

“A sensação de poder ajudar é a melhor possível. No final do dia fui visitá-la em casa e senti alívio por vê-la bem e fora de perigo. São ocasiões como essa que nos fazem valorizar essas capacitações. Também já consegui evitar um incêndio em casa depois de ter participado de outro curso. Trabalhar com saúde é estar sempre atento às urgências”, disse a funcionária, orgulhosa do gesto.

 

“Mantive a calma e lembrei de todas as orientações”

 

A agente de saúde Maria do Carmo Vasconcelos, de azul, junto ao paciente Manoel da Silva e a filha, Zuleide da Silva

Maria do Carmo Vasconcelos — há 21 anos Agente Comunitária de Saúde de São Bernardo — protagonizou outra situação de salvamento junto à população, também em julho. A ocorrência aconteceu no bairro onde atua, no Jardim Ipanema. A funcionária trabalha na UBS do Jardim Ipê, próxima ao local. Enquanto fazia as rotineiras visitas casa a casa para avaliar a saúde dos moradores, deparou-se com uma situação de perigo que exigiu sua intervenção.

Manoel Celestino da Silva, de quase 80 anos — há sete acamado — teve princípio de derrame cerebral na presença da agente de saúde durante uma de suas visitas. “Ouvi um grito da filha, que o segurou pelos braços. Primeiro pedi calma a toda a família. Não havia pulsação. Foi quando iniciei as manobras cardíacas de ressuscitação. Fiz o mesmo movimento por cerca de 15 minutos, como havia aprendido no treinamento de primeiros socorros. Pedi ajuda a Deus. Segui chamando-o pelo nome, até que ele deu um suspiro forte e profundo, como se estivesse voltando devagar. A pulsação retornou aos poucos, ainda fraca. Pouco depois, a médica do SAMU chegou e ele foi levado ao hospital”, relembra dona Maria do Carmo, que nutre vínculo especial com a família do paciente. “É como se fossem meus parentes. Conheço todos há 21 anos, desde que iniciei na profissão. Foi inesquecível poder ajudá-lo a viver”.

O paciente permaneceu internado por 15 dias no Hospital de Clínicas de São Bernardo, mas não sofreu sequelas. Hoje, em casa, se alimenta por sonda e segue sob monitoramento das equipes do Programa Saúde da Família (PSF).

A funcionária passou pelo treinamento três semanas antes da ocorrência. “Não estava escalada para aquela data, mas participei de curiosa, pois queria aprender. Muitos acham as aulas chatas, mas depois dessas ocorrências todos passam a ver o treinamento de outra forma”.

CAPACITAÇÕES
Em 2018, o Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) da Central de Convênios (CC) já promoveu cerca de 70 treinamentos em dezenas de unidades de saúde com foco em segurança do trabalho, biossegurança, saúde mental do trabalhador, primeiros socorros, combate a incêndios e ergonomia. A CC, que atualmente tem cerca de 8 mil funcionários, gerencia planos de trabalhos em serviços de saúde de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Franco da Rocha, Itatiba, Mogi das Cruzes, Guarulhos e Santos.