Urologia da MedABC derruba mortalidade de pacientes com câncer de bexiga

Publicado em: 06/09/2019

Projeto redefiniu protocolos de tratamento da doença na região e índice de letalidade caiu de 37% para 2% em um ano

 

Equipe da Disciplina de Urologia e do ambulatório de câncer de bexiga da FMABC

Iniciativa da disciplina de Urologia do Centro Universitário Saúde ABC / Faculdade de Medicina do ABC de Santo André possibilitou salvar a vida de pelo menos 12 pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo após a criação de um projeto que redefiniu os protocolos de tratamento da doença na região. A análise preliminar foi feita com base nos casos de pacientes atendidos no Hospital Estadual Mário Covas de Santo André, Hospital de Clínicas de São Bernardo e Hospital Maria Braido de São Caetano.

Antes da iniciativa, que teve início em 2018, 22 de 59 pacientes em tratamento foram à óbito nos primeiros 90 dias após o tratamento. Depois da criação de um ambulatório específico com foco na otimização e uniformização das metodologias de tratamento, o número caiu para um óbito no mesmo período – considerando novo grupo de 35 pacientes. Ou seja, queda de 37% para 2% na taxa de mortalidade.

O tratamento continua sendo realizado nos hospitais de referência. Porém, quando os pacientes recebem o diagnóstico da doença, são encaminhados ao ambulatório da faculdade para que seu cronograma de tratamento seja rigorosamente elaborado. Depois, retornam às unidades de origem. O sucesso da iniciativa, batizada de CABEM (Câncer de Bexiga Músculo-Invasivo) – que também traz o sentido de ‘CABEM’ mais vidas – foi desenvolvida sob três diretrizes: avaliação adequada do paciente com câncer de bexiga, otimização de recuperação cirúrgica e suporte perioperatório multiprofissional.

“Centralizamos no ambulatório da FMABC todas as decisões estratégicas dos pacientes tratados nos hospitais públicos de Santo André, São Bernardo e São Caetano com diagnóstico de câncer de bexiga. Desta forma os tratamentos passaram a seguir protocolos de acordo com diretrizes internacionais de tratamento desta enfermidade, mas individualizando de acordo com o perfil dos pacientes. A retirada da bexiga, por exemplo, é uma situação extrema que visa a cura do câncer. Em algumas situações, no entanto, é possível preservar a bexiga sem prejudicar as chances de cura. Sempre que possível buscamos esta alternativa. Um bom planejamento é fundamental para a cura e para a manutenção da qualidade de vida”, disse o responsável pelo ambulatório de câncer de bexiga e chefe do grupo de Uro-oncologia da FMABC, Dr. Fernando Korkes. Também atuam no local o responsável pelo setor de pesquisa, Dr. Willy Baccaglini, além dos médicos residentes em Urologia da faculdade.

Quando o câncer se aprofunda nas camadas da bexiga muitas vezes é indicada a remoção do órgão. Contudo, em algumas situações as equipes conseguem adotar tratamentos efetivos. São os chamados protocolos de preservação de órgãos, que podem envolver quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia. Quando a cirurgia é necessária, as equipes seguem o protocolo ERAS (Enhanced Recovery After Surgery), que busca otimizar a recuperação do paciente submetido a cirurgias de grande porte.

“Os pacientes sempre foram tratados, mas resolvemos juntar as pontas e avaliar o que ocorria com eles ao longo de todas as etapas do tratamento. Resolvemos que era hora de mudar. Ainda há muito o que fazer, temos de conseguir ter diagnósticos mais ágeis e em fases iniciais. Pretendemos ampliar nossa capacidade de atendimento para auxiliar cada vez mais pacientes. Os resultados que temos tido são bastante animadores”, completou Dr. Fernando Korkes.

Dos 37 pacientes em acompanhamento atualmente, 31 já receberam tratamento definitivo e 18 foram operados. Em dois casos foi possível evitar a remoção completa da bexiga devido à combinação de quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Seis pacientes estão em programação de cirurgia e seis interromperam o tabagismo durante o tratamento multidisciplinar.

PARCERIAS

Depois da uniformização dos protocolos de tratamentos, além da redução de 12 mortes no período, foi possível dar acesso à quimioterapia para outros 15 pacientes. Realizar o tratamento antes da cirurgia (conhecida como quimioterapia neoadjuvante) pode aumentar as chances de cura e as possibilidades de um procedimento cirúrgico mais bem-sucedido. O encaminhamento é possível graças à parceria com o Centro de Estudos e Pesquisa de Hematologia (CEPHO) da FMABC e com as equipes de Oncologia Clínica dos hospitais da Fundação do ABC nos municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano.

Outra importante interface foi articulada com o Ambulatório de Assistência ao Tabagista da FMABC, gerido pela disciplina de Pneumologia. O tabagismo é considerado um dos principais fatores de risco para o câncer de bexiga. Por isso, interromper o hábito de fumar evita a recorrência do câncer, além de auxiliar na recuperação respiratória após a cirurgia. No local os pacientes são assistidos por equipe multiprofissional composta por pneumologistas, fisioterapeutas, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, entre outros profissionais.

Já o Ambulatório de Nutrição da FMABC oferta suporte nutricional gratuito para qualificar a recuperação clínica dos doentes. Grande parte dos pacientes com câncer de bexiga chegam ao ambulatório com quadro de desnutrição e debilidade, fatores de risco capazes de inviabilizar eventuais cirurgias.

Atualmente 37 pacientes seguem em atendimento no ambulatório da FMABC, que atende às quartas-feiras, a partir das 7h30, no Anexo 2 da FMABC. O endereço é Avenida Lauro Gomes, 2.000, Vila Sacadura Cabral, em Santo André/SP. Interessados em ajudar o projeto CABEM podem fazer doações ao projeto. Mais informações no site www.cabemmaisvidas.com.br.