Durante a palestra, Carolina de Fátima Silvério contou sobre seu tratamento do câncer de mama e duas mastologistas proporcionaram muito conteúdo
Em 19 de outubro, a sala de reuniões do Conselho de Curadores da Fundação do ABC recebeu duas palestras sobre câncer de mama, comandadas pela assistente de Diretoria da FUABC e paciente em tratamento, Carolina de Fátima Silvério. No período da manhã, a atividade contou com a participação da médica mastologista e ex-aluna do Centro Universitário FMABC, Dra. Mariana Rosário. À tarde, as questões médicas ficaram sob responsabilidade da mastologista da FMABC e do Hospital Estadual Mário Covas, Dra. Alessandra Nabarro.
Cerca de 80 pessoas participaram do encontro, cuja abertura esteve a cargo do presidente da FUABC, Dr. Luiz Mário Pereira de Souza Gomes, com palavras de agradecimento e cumprimentos ao público presente, predominantemente de mulheres. Ele ressaltou a importância da iniciativa da FUABC em abordar esse assunto tão relevante para a comunidade. Também enfatizou a importância do acolhimento feminino, destacando que o cuidado e a compreensão são características predominantes nesse universo.
“Eu acredito muito que o mundo é predominantemente feminino. Por quê? Porque existe o acolhimento, que é muito das mulheres, o acolhimento materno, é o acolhimento das atitudes, é a compreensão. Não que esses gestos deixem de existir nos homens, mas é predominantemente feminino. Então, eu acredito muito nesses movimentos das mulheres, nesses movimentos femininos”, comentou Dr. Luiz Mário.
A PALESTRA
Em seguida, a palestrante Carolina de Fátima Silvério compartilhou sua experiência pessoal, enfatizando a importância da informação e do diagnóstico precoce. Ela ressaltou que, por meio dos exames anuais e do acompanhamento médico, conseguiu detectar o câncer em estágio relativamente inicial. Carolina destacou a relevância desse tipo de evento e a importância de disseminar informações sobre o câncer de mama. Ela compartilhou sua jornada, desde o diagnóstico até o tratamento, incluindo mastectomia, quimioterapia, radioterapia e agora a hormonioterapia.
Na parte da manhã, a convidada Dra. Mariana Rosário abordou temas como prevenção, tratamento, apoio emocional e aspectos relacionados à qualidade de vida após o câncer de mama. Ela destacou a importância do autoexame, lembrando que ele pode detectar a doença em estágios mais avançados. A mesma informação foi ratificada à tarde, na participação da Dra. Alessandra Nabarro.
“A maior parte dos diagnósticos de câncer de mama feitos no Brasil, mais de 80%, são nódulos já palpáveis. Então, fazer o autoexame, ter esse momento de autoconhecimento é importante porque, se eu sinto algo diferente na mama, fica mais fácil perceber se eu conheço”, disse Nabarro. Ela encorajou todas as mulheres a realizar o autoexame mensalmente, de preferência na semana após a menstruação, quando há menos estímulo hormonal, acrescentando que as pessoas na menopausa (ou que não menstruam por outros motivos) podem escolher uma data fixa para fazer o autoexame mensalmente.
Dra. Alessandra também demonstrou a importância da inspeção visual e palpação das mamas usando o Mamamiga, um modelo didático de referência. Ela ressaltou que qualquer alteração, como um nódulo sólido, endurecido ou aderido à pele, retração da pele ou do bico do seio, saída de secreção pelo mamilo ou mudanças na pele da mama, são sinais de alerta que exigem atenção e a busca por assistência médica especializada.
Além do autoexame, é fundamental que as mulheres realizem consultas anuais, especialmente a partir dos 40 anos, quando é recomendada a mamografia, já que 25% dos casos ocorrem na faixa etária entre 40 e 50 anos. Trata-se do principal exame para detecção precoce do câncer de mama, que deve ser realizado anualmente, mesmo sem histórico familiar da doença.
ALIMENTAÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA
As duas profissionais de saúde foram enfáticas em dizer que ter um estilo de vida saudável é fundamental na prevenção do câncer de mama e de outras doenças. A alimentação desempenha um papel crucial, e é recomendado o consumo de alimentos com ação anti-inflamatória, além da redução dos ultraprocessados. “Descasque mais e desembale menos. Coma comida de verdade, coma muita verdura, muito legume, pouco carboidrato, tente diminuir farinha, leite e açúcar. Tem estudo relacionando o açúcar com o câncer, ele nutre a célula do câncer”, ensinou a Dra. Mariana Rosário.
A prática regular de exercícios também é essencial na prevenção e no tratamento do câncer de mama, além de promover uma boa taxa muscular, que pode influenciar nos resultados dos tratamentos. “Hoje sabemos que a atividade física também é extremamente importante na prevenção, no tratamento e na recidiva do câncer. Uma paciente idosa que não tem uma taxa muscular suficiente não consegue participar de uma cirurgia. Então, vai ter mais efeito colateral uma paciente que tem menos músculo”, alertou Rosário.
SAÚDE MENTAL
A palestra também abordou o valor do apoio emocional às mulheres que passam pelo tratamento do câncer de mama. Dra. Mariana ressaltou a importância de ter uma rede de apoio solidária, composta por familiares, amigos e profissionais de saúde, para enfrentar os desafios emocionais que surgem durante o processo.
Nesse mesmo contexto, Carolina Silvério apresentou um dado alarmante: “70% das mulheres com câncer de mama são abandonadas pelos parceiros durante o tratamento, e isso é algo que me choca muito. Porque se não fosse meu marido me dando essa força, eu não sei como eu teria passado por essa fase”, disse.
AVANÇOS
Quando o câncer de mama é diagnosticado em estágios iniciais, as chances de cura são significativamente maiores, podendo superar 95%. Ambas as médicas enfatizaram, justamente, que a doença não é mais uma sentença de morte. “Muito pelo contrário. Tem paciente de câncer com metástase vivendo 15 anos, fazendo tratamento contínuo, mas vivendo esse tempo. Hoje, a gente opera metástase; tem metástase no fígado, se opera; tem metástase óssea, se opera”, explica Dra. Mariana Rosário.
Com diagnóstico precoce e avanços no tratamento, a cura é uma possibilidade real, como demonstra Carolina Silvério, que disse ter reagido muito bem aos procedimentos. “Eu estou fazendo esse tratamento tão agressivo, mas eu nem me sinto doente. Eu acho que isso muito se deve ao fato de não só eu ter estado com uma boa saúde física, mas também pelo avanço da medicina e dos tratamentos”, afirmou.
Ao encerrar sua fala, Carolina reforçou a importância de sensibilizar outras mulheres e compartilhar conhecimento sobre a prevenção e o tratamento do câncer de mama. Seu testemunho destacou que, com informação e acesso adequado aos cuidados médicos, é possível enfrentar a doença e conquistar a cura.
OUTUBRO ROSA
Movimento internacional de conscientização para a detecção precoce do câncer de mama, o Outubro Rosa foi criado no início da década de 1990, quando o símbolo da prevenção ao câncer de mama – o laço cor-de-rosa – foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York (EUA) e promovida anualmente desde então.
O período é celebrado no Brasil e no exterior com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, a fim de contribuir para a redução da incidência e da mortalidade pela doença.
Trata-se do tipo de câncer que mais acomete mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. Cerca de 2,3 milhões de casos novos foram estimados para o ano de 2020 no mundo, o que representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas nas mulheres.
Os principais sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama são: caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor; pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja; alterações no bico do peito (mamilo); e saída espontânea de líquido de um dos mamilos. Também podem aparecer pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).
A mamografia é o exame de rotina em mulheres sem sinais e sintomas de câncer de mama, recomendada pelo Ministério da Saúde na faixa etária de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia recomendam o rastreamento anual a partir dos 40 até os 75 anos.