Publicado em: 25/10/2024
A Fundação do ABC realizou dia 23 de outubro um treinamento para 12 brigadistas de incêndio da Mantenedora e do Centro Universitário FMABC, em Santo André. Tendo como instrutor o engenheiro civil e de segurança contra incêndio Hugo Kloppel, da HK3 Engenharia, o curso abordou temas como o uso correto de extintores, técnicas de primeiros-socorros, procedimentos de evacuação e a importância de identificar riscos, como o perigo da fumaça durante incêndios.
Um dos primeiros tópicos foi a cadeia de ações quando acontece um incêndio. Inicialmente, é necessário identificar o perigo, procurando sinais de fogo, como fumaça e calor. “O tempo de reação pode ser a diferença entre um incidente controlado ou uma tragédia”, explicou Kloppel.
Depois, é preciso comunicar o perigo. O engenheiro orientou sobre ter linhas telefônicas específicas para esse fim e botões de alarme, mas o que mais funciona, em sua experiência, são grupos de WhatsApp, com a ressalva de que as mensagens neste canal devem ser estritamente sobre comunicados de emergências.
Por fim, o terceiro passo da sequência de ações é a utilização correta de extintores: cada classe de fogo exige modelos específicos. Sobre esse tema, o especialista disse que a classe A de incêndio, propagada em materiais sólidos, como papel, madeira e tecido, pode ser combatida com os três principais tipos de extintores. Já para as classes B (líquidos inflamáveis) e C (equipamentos elétricos energizados) devem ser usados os apagadores de CO2 ou pó químico.
Esses eram as principais classes de incêndio, mas a modernidade trouxe uma quarta, do tipo D, que são os causados por metais pirofóricos, como aqueles usados em baterias de celulares e carro elétricos. Por isso, é necessária uma atenção muito grande quanto aos telefones móveis, alertando-se para não alimentar o aparelho em superfícies inflamáveis. “Carregar o celular sobre tecidos, como sofás, aumenta o risco de superaquecimento e até mesmo de incêndio. A melhor prática é sempre carregá-los em superfícies planas e duras, que permitem a dissipação de calor”, orientou o instrutor, alertando sobre casos reais de dispositivos que pegaram fogo devido ao superaquecimento. Ainda sobre as classes de fogo, para título de curiosidade, ainda existem a E, que acontece nas usinas nucleares, e a K, que envolve cozinhas profissionais.
OS QUATRO ELEMENTOS
Hugo também aproveitou o treinamento para explicar o tetraedro do fogo, uma evolução do tradicional triângulo do fogo. Ele destacou que, além dos três elementos básicos para a combustão — combustível, calor e oxigênio —, o quarto elemento é a reação em cadeia, que mantém a chama ativa. “Interromper qualquer um desses elementos extingue o incêndio”, disse o profissional, lembrando que o conhecimento dessas reações é crucial para entender como cada extintor age no combate ao fogo.
Um dos tópicos mais críticos do treinamento foi o perigo da fumaça em incêndios. Hugo alertou que a inalação dos gases de queima é uma das principais causas de mortes em acidentes com chamas, devido à presença de gases tóxicos como monóxido de carbono. “A fumaça é mais perigosa do que o fogo em si. Ao sentir muita fumaça, abaixe-se imediatamente ou rasteje até uma área segura”, explicou, dando como exemplo a tragédia da boate Kiss, no Rio Grande do Sul em 27 de janeiro de 2013, que matou 242 pessoas, a maioria pela inalação de gases maléficos oriundos da queima do forro.
O treinamento também incluiu simulações de evacuação em emergências, seguindo protocolos que garantem a segurança de todos os envolvidos. O engenheiro orientou que as pessoas mais conscientes e com mobilidade preservada, chamadas de condição verde, devem ser evacuadas primeiro. “Em casos críticos, pessoas com dificuldades de locomoção devem ser ajudadas, mas sempre priorizando as que podem sair sem auxílio imediato”, disse. Depois que se estiver em um local mais seguro, a prioridade se inverte: as que estiverem em condições mais graves (vermelha e amarela) devem ser ajudadas primeiro.
PRIMEIROS-SOCORROS
Um dos momentos mais importantes do treinamento foi a sessão prática sobre ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Kloppel destacou a importância de iniciar a manobra de ressuscitação o mais rápido possível em casos de parada cardíaca. “Se a vítima não receber RCP em até quatro minutos, as chances de recuperação diminuem drasticamente”, explicou.
A técnica consiste em realizar compressões no tórax da vítima em um ritmo contínuo e adequado, cerca de 100 vezes por minuto. “Uma maneira simples de manter o ritmo correto é seguir o tempo da música ‘Stayin’ Alive’ (famosa canção do grupo Bee Gees)”, sugeriu o engenheiro, destacando que as compressões devem ser profundas e regulares, até a chegada de ajuda especializada.
A capacitação também incluiu uma sessão prática sobre a manobra de Heimlich, essencial para desobstruir as vias aéreas de uma pessoa engasgada. Kloppel explicou que a técnica envolve aplicar, envolvendo a vítima com os braços por trás, pressão rápida e para dentro e cima no abdômen, logo abaixo do osso esterno, até que o objeto seja expelido. Caso esteja sozinho, a instrução é que se faça pressão do mesmo local contra o pé de uma cadeira ou mesa. A manobra é eficaz em casos de sufocamento por alimentos ou pequenos objetos.
A segurança do local é a prioridade em qualquer emergência. O instrutor ressaltou a importância de seguir os três “S” — cenário seguro, socorrista seguro e vítima segura — antes de iniciar qualquer socorro. “Antes de qualquer ação, garanta que o ambiente esteja livre de perigo. Em situações com eletricidade ou combustíveis, é necessário redobrar o cuidado”, destacou. Depois, verifique se o socorro não vai colocar quem vai ajudar em risco e, por fim, é necessário ver se a ajuda não vai mais prejudicar do que beneficiar o acidentado.
O treinamento forneceu aos brigadistas da Fundação do ABC uma visão detalhada sobre prevenção e combate a incêndios, além de oferecer práticas importantes para a segurança do ambiente de trabalho. O evento faz parte das ações contínuas da instituição para garantir a segurança de seus funcionários, garantindo que todos estejam preparados para agir com rapidez e precisão em situações de perigo.