Fundação do ABC discute atendimento em casos de violência sexual contra menores de idade

Publicado em: 29/11/2024

Especialistas, gestores e profissionais reforçam a importância da integração entre saúde, justiça e assistência social para atendimento humanizado às vítimas

 

Sandra dos Santos Oliveira, Dra. Maria Auxiliadora Figueredo Vertamatti, Dra. Maria Aparecida Dix Chehab, Dra. Teresa Cristina Cabral Santana, Dra. Juliana Govoni Baccani, Gleice Girotto, Erica dos Santos Cassere e Karen Amaral

A Fundação do ABC, por meio de seu Programa de Qualidade e Melhoria Contínua, promoveu nesta semana o evento “Compartilhando boas práticas: atendimento à criança e ao adolescente vítimas de violência sexual”. A atividade proporcionou rico debate sobre o tema e a divulgação de iniciativas que estão em andamento na FUABC para combater o problema nas regiões onde presta serviços. Promovido no Anfiteatro do Prédio CEPES do Centro Universitário FMABC, em Santo André, o evento contou com a participação de aproximadamente 160 pessoas.

Entre os presentes estiveram diretores, membros de diretoria técnica, gestores assistenciais, equipe de serviço social das unidades gerenciadas, representantes do Conselho Tutelar e a equipe do Comitê Participativo da Qualidade da FUABC. No local reuniram-se especialistas e profissionais de diversas áreas, integrando saúde, justiça e assistência social no cuidado a vítimas de violência.

Na abertura, a diretora de Projetos e Qualidade, Gleice Girotto, destacou o impacto do evento no fortalecimento da rede de proteção. “A nossa expectativa é de que este evento nos torne mais preparados e unidos em nossa missão de combater a violência sexual contra crianças e adolescentes. Nosso compromisso é proporcionar um atendimento integral e de qualidade a essas vítimas, promovendo não apenas o cuidado físico, mas também emocional e psicológico”, afirmou.

Dr. Luiz Mário Pereira de Souza Gomes, presidente da FUABC

Na sequência, o presidente da FUABC, Dr. Luiz Mário Pereira de Souza Gomes, ressaltou o papel da instituição na implementação de práticas inovadoras para o atendimento às vítimas. “A violência sexual é uma violação de direitos que exige um esforço coletivo entre diferentes setores da sociedade. Na Fundação do ABC, estamos comprometidos em aprimorar os protocolos e garantir que as vítimas recebam o cuidado adequado em um ambiente humanizado. Há excelentes iniciativas sendo realizadas nas nossas unidades, como a implementação de fluxos especializados de atendimento e parcerias interinstitucionais que fortalecem a rede de proteção às vítimas”, destacou.

DEBATE

Para abrir as discussões, foram convidadas a coordenadora do Serviço Social do Complexo de Saúde de São Bernardo do Campo, Sandra dos Santos Oliveira, e a médica ginecologista Dra. Maria Auxiliadora Figueredo Vertamatti, idealizadora e coordenadora do PAVAS, o Programa de Atenção à Violência e Abuso Sexual de São Bernardo do Campo.

A médica lembrou a relevância do programa que idealizou e coordena no cuidado integral às vítimas. “Desde a criação do PAVAS, nosso foco tem sido proporcionar acolhimento, escuta e apoio especializado. Com o passar dos anos, vemos o impacto positivo dessa iniciativa, que fortalece a rede de proteção e o combate à violência sexual”, disse. Já Sandra destacou a importância da capacitação contínua e do trabalho em rede. “Muitos casos de violência chegam primeiro nas escolas ou nas unidades básicas de saúde, e é essencial que esses profissionais estejam preparados para acolher as vítimas. Por isso, investimos em formações contínuas e no matriciamento com os profissionais da ponta, como assistentes sociais e psicólogos”, explicou.

Em seguida, houve apresentação do Hospital Municipal de Mogi das Cruzes (HMMC), unidade que mantém desde 2019 um protocolo multidisciplinar para atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. A assistente social Erica dos Santos Cassere destacou os procedimentos adotados pela unidade, que visam garantir uma abordagem ágil e segura às vítimas. “Nosso hospital conta com um protocolo bem estruturado, que inclui desde a triagem inicial até a condução do atendimento multidisciplinar. Em casos de violência sexual, as crianças são atendidas em salas exclusivas, com total privacidade, para evitar revitimização. Além disso, garantimos um atendimento imediato, com a criança sendo encaminhada rapidamente para o atendimento especializado”, explicou.

Gleice Girotto, diretora de Projetos e Qualidade da FUABC

Diretora técnica do HMMC, Dra. Juliana Govoni Baccani abordou uma mudança no perfil das vítimas observada depois de 2022. “Antes a faixa etária mais comum entre as vítimas atendidas era de 5 anos. No entanto, após a pandemia, essa média passou para 7 anos. Esse aumento tem sido perceptível especialmente nas escolas, que têm sido locais de identificação de casos de abuso. É importante destacar a parceria com a Guarda Municipal, que criou um projeto nas escolas de ensino fundamental, abordando temas como bullying, racismo e violência sexual, o que tem ajudado a identificar mais casos de abuso”.

A última atividade do evento, realizado em 27 de novembro, foi marcada por uma roda de conversa que teve como mediadora a docente da disciplina de Hebiatria no departamento de Pediatria do Centro Universitário FMABC, Dra. Maria Aparecida Dix Chehab, que ressaltou a importância de um trabalho colaborativo entre saúde e justiça. “A atuação conjunta entre esses dois setores tem sido fundamental para o bem-estar das vítimas, permitindo que os processos legais sejam conduzidos de forma eficaz, além de garantir o suporte psicológico e social necessário para a recuperação das vítimas”.

Integrante da roda de conversa junto à assistente social Sandra dos Santos Oliveira e à Dra. Maria Auxiliadora Figueredo Vertamatti, a magistrada do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e integrante da COMESP (Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário do Estado de São Paulo), Dra. Teresa Cristina Cabral Santana, fez uma reflexão sobre os avanços no enfrentamento da violência doméstica e sexual. “Eu sou otimista, mas também realista. Vi muitas mudanças ao longo dos anos. Hoje, vejo mais homens envolvidos nas discussões sobre violência, o que é um sinal positivo. No passado, quando começamos a falar sobre políticas públicas, éramos muito criticadas. Atualmente há mais reconhecimento e mais ações concretas. Isso é um grande avanço”, pontuou.

Assim, com um olhar atento às necessidades das vítimas e aos desafios que ainda existem, o encontro reforçou o compromisso da Fundação do ABC em promover a integração entre as diversas áreas da sociedade para garantir que a violência sexual seja combatida de maneira contundente e eficaz, proporcionando às vítimas um acolhimento digno e humanizado nos serviços de saúde.