Publicado em: 26/08/2016
No Brasil, mais da metade da população está acima do peso (52%) e cerca de 17% desse universo apresenta obesidade nos graus I, II e III. O excesso de peso favorece o aparecimento de doenças cardíacas, que podem resultar em infarto e acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo, e também pode levar ao diabetes tipo 2, hipertensão, alguns tipos de cânceres – como de cólon e de mama –, problemas de articulações e infertilidade, além de causar impactos psicológicos e sociais.
Desde janeiro, pacientes com índice de massa corporal (IMC) maior do que 35 e portadores de doenças crônicas, como o diabetes, têm indicação para realizar a cirurgia bariátrica, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Embora considerada extremamente invasiva, quase 100 mil cirurgias bariátricas são realizadas por ano no Brasil.
Por conta do aumento de obesos no país e dos riscos da cirurgia bariátrica, um grupo de estudos liderado pelo gastrocirurgião Dr. Manoel Galvão Neto deu início no Brasil a uma alternativa à cirurgia bariátrica: a gastroplastia endoscópica. Trata-se de procedimento minimamente invasivo, apesar de complexo. Na bariátrica convencional, o paciente permanece por cerca de 1 a 3 horas na mesa de cirurgia e de 2 a 4 dias internado. Já no modelo endoscópico, o procedimento leva menos de uma hora e a alta hospitalar ocorre no mesmo dia.
Dessa forma, a técnica tem se mostrado mais segura e com risco de complicação potencialmente menor do que a cirurgia bariátrica. “Procedimentos minimamente invasivos e complexos, de menor custo, têm sido desenvolvidos com o objetivo de alcançar um maior número de pacientes”, explica o gastrocirurgião e endoscopista Dr. Eduardo Grecco, que é docente Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e diretor do Hospital Estadual Mário Covas de Santo André (HEMC).
Os primeiros casos no Brasil estão sendo conduzidos no HEMC por equipe dos professores afiliados da FMABC composta pelos doutores Eduardo Grecco, Thiago Souza e Luis Gustavo Quadros, sob comando do Dr. Manoel Galvão Neto – responsável pelo primeiro estudo no mundo, que foi realizado no Panamá e apresentado internacionalmente em congresso. Posteriormente, novos estudos foram realizados na Espanha e nos Estados Unidos, com a participação dos demais professores. “Todos os estudos realizados até o momento apontaram para a perda de cerca de 50% do excesso de peso com seguimento após o procedimento e mais de 15% de perda de peso total em até três anos”, explica Dr. Manoel Galvão Neto.
PROCEDIMENTO INÉDITO
A primeira gastroplastia endoscópica no país foi realizada em 20 de junho, no setor de Endoscopia do Hospital Estadual Mário Covas, como protocolo de estudo. Sem complicações, o procedimento durou cerca de 50 minutos para paciente do sexo masculino, de 56 anos, com índice de massa corpórea (IMC) de 35,17 Kg/m2. Após a alta hospitalar, foi iniciada dieta líquida sem resíduos.
A gastroplastia endoscópica é um método de tratamento endoscópico da obesidade desenvolvido há cerca de 3 anos e que usa um equipamento de sutura endoscópica (endosutura) de última geração, aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration) – órgão responsável pelo controle de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos – e capaz de oferecer efetiva e duradoura ação sobre os tecidos suturados. O procedimento envolve as paredes do estômago no corpo tubular, com objetivo de restringir a capacidade e diminuir o trânsito dos alimentos pelo do estômago, levando à saciedade precoce e induzindo a perda efetiva de peso.
O tratamento é feito por via totalmente endoscópica, ou seja, não há cortes ou incisões no abdômen. Tem sido indicado para pacientes com obesidade grau I e acima, porém, não substitui a cirurgia bariátrica convencional quando a mesma estiver indicada.