Vítima de afogamento, bebê recebe alta depois de 72 dias internado no HGA

Publicado em: 15/08/2025

Após 16 paradas cardíacas, bebê Davi desafia prognósticos médicos e recebe alta da UTI Pediátrica do HGA, em Santos

 

Agora, o pequeno guerreiro vai continuar sua recuperação em casa

Era 1º de junho quando as portas da UTI Pediátrica do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, se abriram para receber um pequeno guerreiro de apenas 11 meses. Davi chegava em estado crítico, vítima de afogamento, carregando nos pulmões ainda pequenos o peso de uma tragédia que quase lhe custou a vida. Dezesseis paradas cardiorrespiratórias haviam marcado sua passagem pela UPA de Itanhaém, antes que a equipe médica conseguisse estabilizá-lo o suficiente para a transferência.

O que se seguiu foram 72 dias de uma batalha silenciosa entre a ciência e o destino, entre a dedicação humana e os limites da medicina. Ellen Karina, coordenadora de enfermagem da UTI Pediátrica, lembra com precisão cirúrgica os primeiros momentos. “Ele veio muito grave, entubado, necessitou uso de droga vasoativa”. As palavras técnicas carregam o peso de uma realidade crua – um bebê suspenso entre dois mundos.

Os exames revelaram a extensão do dano. A avaliação oftalmológica mostrou a perda de visão, pois o nervo óptico havia sucumbido às lesões graves do afogamento. O eletroencefalograma e a ressonância magnética de encéfalo confirmaram o que a equipe mais temia: Davi apresentava perda neuronal significativa.  Foram diagnósticos que ecoaram aos pais como sentenças, mas que não conseguiram abalar a determinação de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, neuropediatras e oftalmologistas que se uniram, em um verdadeiro movimento fino e contundente como os de uma orquestra, nos cuidados ao pequeno Davi.

“Vivemos períodos em que a gente achava realmente que ele não fosse sobreviver”, admite Ellen, sem romantizar a gravidade do quadro. Foram noites longas de vigília, dias de pequenos sinais que ora acendiam esperanças, ora as apagavam novamente. No Hospital Guilherme Álvaro, onde a Fundação do ABC gerencia dez leitos de UTI Pediátrica entre outras especialidades, histórias dramáticas fazem parte do cotidiano, mas poucas vezes se viu recuperações como a do valente Davi que, como a figura bíblica, enfrentou um Golias.

A virada chegou de forma gradual, como costuma acontecer na medicina quando o impossível se torna possível. Aos 65 dias de internação, Davi estava clinicamente pronto para receber alta. A equipe então acionou o programa Melhor em Casa de Itanhaém, iniciando um protocolo que incluiu a visita domiciliar e a avaliação de saneamento básico e de infraestrutura elétrica. Era preciso garantir que o paciente tivesse todas as condições necessárias para continuar sua recuperação em casa.

No dia 12 de agosto, após 72 dias de internação, as mesmas portas que um dia receberam Davi em estado crítico, se abriram para sua saída, sob aplausos da equipe multidisciplinar. Desta vez, ele deixava o hospital não curado – as sequelas neurológicas permanecerão como lembrança permanente daquele horrível dia de junho – mas vivo, respirando por conta própria e desafiando estatísticas.

A alta médica veio acompanhada de um plano de cuidados: acompanhamento com neuropediatra, pediatra e oftalmologista, além do suporte domiciliar com fisioterapia, fonoaudiologia, enfermagem e atendimento médico semanal. É a medicina se reinventando para além dos muros hospitalares, reconhecendo que a cura às vezes habita não apenas nos procedimentos, mas na continuidade do cuidado e no inesperado.

Ellen resume com a simplicidade de quem testemunhou o extraordinário. “Estava desacreditado em sobreviver pela gravidade do afogamento, mas está vivo.” A frase ecoa não apenas o alívio profissional, mas a admiração diante de algo que transcende protocolos e prognósticos. A família de Davi, que durante esses 72 dias manteve a fé inabalável como âncora, agora se prepara para escrever um novo capítulo desta história.

Na UTI Pediátrica do Hospital Guilherme Álvaro, onde outros pequenos pacientes continuam suas próprias batalhas, a história de Davi permanece como lembrança de que, quando cada um faz sua parte, com excelência, dedicação, empatia e amor, acontecem coisas que desafiam qualquer explicação puramente técnica.