Aluno de MBA nos Estados Unidos conta trajetória de superação da dislexia

Publicado em: 25/07/2016

A grande dificuldade em acompanhar os colegas de classe na escola e as notas baixas nas provas – apesar do esforço nos estudos – não desanimaram Giovanni de Oliveira Furlani. Diagnosticado no Ensino Fundamental I com dislexia, ele deu início à trajetória marcada por inúmeros obstáculos e desafios, assim como por perseverança e superação. Hoje formado em Relações Internacionais e cursando MBA nos Estados Unidos (EUA), Furlani esteve em 8 de julho na Faculdade de Medicina do ABC, a convite do Núcleo Especializado em Aprendizagem (NEA), para falar sobre o segredo do sucesso contra a dislexia – que ele mesmo define como a “falta de compreensão de algo que se torna muito importante para você”.

Fluente em inglês e pós-graduando nos EUA, Giovanni de Oliveira Furlani

Fluente em inglês e pós-graduando nos EUA, Giovanni de Oliveira Furlani

Segundo o palestrante, desde o início na escola ele sentia que as coisas eram diferentes para ele. “Eu lia o mesmo livro várias vezes e não entendia nada. Sofri preconceito, mas para mim isso não era obstáculo. Eu não podia desanimar, tinha que superar e encarava isso como um talento”.

Frente às dificuldades escolares, os pais de Giovanni começaram a buscar auxílio profissional e um possível diagnóstico para o problema. “Enquanto alguns amigos estudavam meia hora antes da prova, eu estudava 12 horas. Assistia as aulas, fazia reforço de quase todas as disciplinas e ainda treinava basquete”, recorda Furlani, que também tinha na intensa agenda de atividades as sessões com equipe interdisciplinar de saúde, com psicólogo, neurologista e psicopedagogo, por exemplo.

A solução para o problema passaria por uma união de esforços, que incluía a determinação do estudante em superar as dificuldades, o tratamento interdisciplinar e o apoio da família, além da compreensão e colaboração efetiva da escola. “Quando eu fazia uma prova de História da forma convencional, escrita, eu tirava nota 4. Quando fazia a mesma prova, na forma oral, eu tirava 9,5. Geografia era a mesma coisa. Eu sabia o que estava sendo pedido”, recorda Giovanni Furlani, que acrescenta: “Esse início foi muito difícil. Os outros alunos perguntavam o motivo de eu poder fazer as provas daquela forma e eles não. Eu respondia que era gênio, que tinha um talento”.

Giovanni foi um dos primeiros de sua escola – o Colégio Arbos de São Bernardo – diagnosticado com dislexia e que deu início à prova complementar oral, a pedido da psicóloga e do médico que o acompanhavam. Recebeu total apoio em suas dificuldades e encurtou caminho para outros alunos como ele, a partir do momento em que a instituição de ensino aprendeu a lidar com as diferenças e aprimorou sua metodologia de ensino, a fim de oferecer igualdade de condições a todos os estudantes.

Outro ponto fundamental na caminhada foi o amor pelo esporte. Giovanni treinou basquete por mais de 10 anos, o que permitiu aprender “a importância da comunicação entre todos e que o trabalho em equipe, o coletivo, é mais importante do que o destaque individual”.

TRAJETÓRIA DE SUCESSO

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Em palestra na FMABC, Giovanni com membros do NEA e demais convidados

A dislexia não reduziu as oportunidades de crescimento e desenvolvimento de Giovanni Furlani. Pelo contrário. Aumentou sua determinação para superar os desafios. O aluno viajou para o Canadá, onde cursou inglês por seis meses. Posteriormente estendeu sua estadia no exterior e, na Califórnia (EUA), concluiu curso de três meses com ênfase em Negócios. “Minha adaptação ao inglês foi muito boa, melhor do que ao português, que é uma língua muito mais complexa. Essas experiências fora do país me fizeram refletir sobre muitas coisas, inclusive sobre como encarar o mundo. Se eu não tivesse buscado ajuda e trabalhado firme no passado, jamais teria chegado até aqui”.

De volta ao Brasil, cursou faculdade de Relações Internacionais na Fundação Armando Alvarez Penteado (FAAP), onde também contou com apoio da instituição de ensino desde o vestibular, com mais tempo para realização da prova e apoio de funcionários em necessidades específicas. “A faculdade oferece toda a estrutura necessária para quem tem dislexia. Nunca peguei uma DP (dependência). A única dificuldade que encontrei foi com um professor de Matemática Financeira, que se recusava a aplicar prova oral. Depois de muita insistência, ele cedeu e acabou percebendo que realmente eu sabia o conteúdo. Posteriormente, esse mesmo professor entendeu meu caso e passou a trabalhar dessa forma com outros alunos com dislexia. Até hoje mantemos contato e ele sempre me pergunta muitas coisas”, revela.

Atualmente Giovanni Furlani mora nos Estados Unidos, onde cursa MBA na University of South Florida. Segundo ele, hoje não existem mais barreiras. “Eu batalhei para vencer os obstáculos e trilhar meu próprio caminho. Não podemos nos acomodar. Temos que buscar apoio, ajuda, mas entender que temos que enfrentar nossas dificuldades, aprender com os erros, crescer e fazer a diferença”, completa Furlani.

Segundo a coordenadora do Núcleo Especializado em Aprendizagem da FMABC, a psicóloga e neuropsicóloga Alessandra Bernardes Caturani Wajnsztejn, a palestra foi uma ação inédita do NEA, que buscou apresentar o olhar de um paciente sobre a dislexia, com todas as suas dúvidas, dificuldades e os caminhos percorridos para a superação. “Foi um encontro emocionante e muito enriquecedor. A trajetória do Giovanni confirma que é possível vencer a dislexia com trabalho interdisciplinar, apoio e compreensão da família, assim como com a participação efetiva da escola e dos professores no processo. O diagnóstico preciso, os métodos de avaliação diferenciados e customizados segundo as necessidades do aluno, a compreensão, o acolhimento e a inclusão no ambiente escolar são fundamentais para o sucesso do processo de aprendizagem. Hoje ainda nos deparamos com professores reticentes sobre algumas necessidades diferenciadas desses alunos, como provas orais e maior tempo para realizar as avaliações. Entretanto, a trajetória do Giovanni, que hoje cursa MBA nos Estados Unidos, é um exemplo real de vitória e superação”, garante Alessandra Wajnsztejn.