Publicado em: 18/06/2014
Em tempos de Copa do Mundo, os torcedores mais apaixonados devem ter cuidado redobrado com o coração. Segundo trabalho realizado pela FIFA (Federação Internacional de Futebol) no mundial de 2006, na Alemanha, a incidência de emergências cardíacas foi 2,6 vezes maior em dias de jogos da seleção anfitriã quando comparada ao período pré-copa. Além disso, artigos científicos que avaliaram períodos de um mês antes e após as copas de 1998, 2002, 2006 e 2010 registram aumento considerável nas emergências e internações hospitalares, cujos motivos principais foram eventos coronarianos como angina e infarto agudo do miocárdio.
“O grau de interesse de um torcedor apaixonado interfere no sistema nervoso de tal maneira que as funções orgânicas saem do padrão de normalidade. O coração acelera (taquicardia) e a respiração aumenta até o indivíduo ficar ofegante. É como se estivesse fazendo uma atividade física em repouso e sem controle”, detalha o cardiologista especializado em Medicina Esportiva da Fundação do ABC e Diretor Técnico do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Mauá, Dr. Marcelo Ferreira, que acrescenta: “Fatores adicionais podem potencializar o problema, como a grande expectativa pela partida, falta de sono, excesso de comida, consumo de álcool e tabagismo. São todos fatores que colaboram para disparar as intercorrências cardíacas emergenciais”.
Segundo o médico, aterosclerose é a principal causa de morbimortalidade no mundo ocidental, sendo a síndrome coronariana aguda uma das principais manifestações. “Eventos como a Copa do Mundo, num país apaixonado como o nosso, tornam as partidas da seleção brasileira eventos fortes o suficiente para aumentar a incidência de emergências cardiovasculares. Para quem é fanático por futebol, assistir um jogo de sua seleção pode ser estressante a ponto de dobrar o risco de um evento cardiovascular agudo. O risco pode ser ainda maior se levarmos em consideração o contexto da copa deste ano, na qual a seleção joga em casa, ao lado de sua torcida”, alerta o cardiologista Marcelo Ferreira.
Na Copa do Mundo da Alemanha, a maior incidência de eventos cardiovasculares foi observada durante as primeiras 2 horas após o início de cada partida. Os problemas graves mais comuns foram aumento da incidência de infarto do miocárdio, angina instável e arritmia cardíaca. “Em vista de todos os dados e estudos realizados sobre o tema, felizmente o Brasil está preparado para lidar com situações de urgência nos estádios, com equipes médicas treinadas e arenas estruturadas para o suporte básico de vida”, considera Marcelo Ferreira, que aconselha: “Diante do risco aumentado no período da copa, particularmente em homens com doença coronariana conhecida, medidas preventivas são urgentemente necessárias. Conversar com o médico de confiança para orientações preventivas certamente é o melhor caminho”.
Trabalho recente realizado pelo Hospital das Clínicas da FMUSP e Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto avaliou os efeitos agudos do estresse induzido por jogos da Copa do Mundo de Futebol no aumento da incidência de doenças cardiovasculares no Brasil. Foram usados dados disponíveis no Sistema Único de Saúde referentes às internações hospitalares por síndromes isquêmicas agudas, considerando períodos de maio a agosto de 1998 a 2010. Comparou-se a incidência de infarto e óbito entre os dias sem copa. Concluiu-se que houve aumento da incidência de infarto para os jogos da copa, porém sem impacto sobre a mortalidade intrahospitalar.