Após osseointegração inédita, paciente inicia reabilitação no Lucy Montoro de Diadema

Publicado em: 26/02/2024

Implante intraósseo substitui prótese convencional, que causava desconfortos; procedimento foi realizado em janeiro no Hospital Estadual Mário Covas

 

Maicon Rocha de Almeida, 24 anos, tem perspectiva de volta a andar nos próximos meses

Maicon Rocha de Almeida, 24 anos, submetido no mês passado à cirurgia de osseointegração no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, iniciou em fevereiro seu novo processo de reabilitação na Rede de Reabilitação Lucy Montoro de Diadema. O procedimento, inédito na Região Metropolitana de São Paulo, foi viabilizado após articulação entre os dois serviços gerenciados pela Fundação do ABC (FUABC). Recém-chegada ao Brasil, a técnica marca um avanço significativo no tratamento de amputações nas regiões do fêmur e da tíbia.

O paciente sofreu amputação de sua perna esquerda após ser atropelado por um ônibus em 2021. Meses depois, iniciou sua recuperação na Rede Lucy Montoro de Diadema utilizando uma prótese de encaixe, convencional. No entanto, ao longo dos meses, não se habituou ao dispositivo. Foram realizadas inúmeras revisões e ajustes pela equipe multiprofissional da unidade, mas Maicon ainda sentia instabilidade, desconforto e falta de firmeza.

Após articulação entre a equipe de Ortopedia do Hospital Estadual Mário Covas e o Lucy Montoro de Diadema, o paciente foi selecionado para receber o procedimento de osseointegração, que permite a integração entre a prótese e o coto remanescente do membro inferior, oferecendo uma solução aos pacientes que enfrentam dificuldades na adaptação das próteses convencionais. Agora, a perspectiva é voltar a andar em alguns meses, com mais autonomia, conforto e praticidade.

“Com a prótese anterior me sentia mais preso. Eu gosto de academia, fazer exercícios, e se emagrecia já tinha que trocar o encaixe. Ou, transpirava e chegava a machucar um pouco. Não sentia segurança. Quando me perguntaram se eu tinha interesse nessa cirurgia, logo topei. A perspectiva é de ter mais independência, poder sair mais, voltar ao trabalho e à vida normal. O atendimento como um todo tem sido perfeito, só tenho a agradecer a todos”, disse o paciente, que também recebe assistência psicológica na unidade.

Segundo o precursor da técnica no Brasil e chefe do Serviço de Ortopedia Oncológica do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), Dr. Antonio Marcelo Gonçalves de Souza, Souza — que operou o paciente junto à equipe de Ortopedia do HEMC — cerca de 50% dos pacientes que utilizam próteses convencionais não se adaptam ao equipamento e precisam de soluções alternativas. O paciente operado no HEMC foi o 13º no Brasil. As outras cirurgias foram realizadas em Recife, Belo Horizonte e Ribeirão Preto.

FISIOTERAPIA

O processo de reabilitação será dividido em três etapas. Em geral, os pacientes submetidos a essa cirurgia conseguem dar os primeiros passos com a prótese entre três e quatro meses após iniciar a reabilitação. “Até passarmos para a próxima etapa de fisioterapia focaremos em exercícios de ativação muscular dos membros inferiores e superiores, fortalecimento do tronco, mobilidade de quadril e trocas posturais. Em seguida, vamos iniciar com cargas parciais, com uso de bengalas e muletas. Por fim, trabalharemos atividades do dia a dia, como os treinos de marcha, até que adquira maior estabilidade”, explica o fisioterapeuta do Lucy Montoro, Carlos Navarro Rubio.

Durante o processo de cicatrização, Maicon continuará sendo atendido semanalmente no HEMC para realizar curativos. Já as sessões de fisioterapia ocorrem duas vezes por semana na unidade de Diadema.

Otimista com o tratamento recebido pelo filho desde 2022 no Lucy Montoro, a mãe do paciente não esconde a satisfação pela evolução do quadro de saúde. “O serviço é maravilhoso. A vida dele mudou após a reabilitação. Depois do acidente, não andava nem de muleta, só cadeira de rodas. Era muito dependente. Agora, após a nova cirurgia, está ainda mais animado, pois sabe que logo voltará a andar e sem desconfortos. Todo esse atendimento foi um divisor de águas na vida dele”, disse Rosa Evangelista da Rocha.

A facilidade de manuseio e a ampla mobilidade rotacional e motora estão entre as principais vantagens observadas nos pacientes após as cirurgias.

O PROCEDIMENTO

A técnica de implante intraósseo é relativamente nova e tem sido usada com mais frequência na Austrália. Mesmo para países como os Estados Unidos, representa uma abordagem inovadora na medicina ortopédica. Após longo período de testes, o procedimento foi aprovado para realização no Brasil em 2021, após autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Para ser apto ao procedimento o paciente precisa atender a alguns critérios, como não ter problemas vasculares, não ser fumante, não ter histórico de infecções recentes ou radioterapias, além de não possuir peso corporal superior a 110kg.

Além do benefício direto ao paciente, o procedimento no Hospital Mário Covas é objeto de estudo acadêmico, com a equipe de Ortopedia do HEMC e a disciplina de Ortopedia e Traumatologia do Centro Universitário FMABC colaborando para a produção de um artigo científico. Publicações internacionais já destacam a melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes submetidos a este tratamento.

A cirurgia de osseointegração, sem custos para o hospital graças à doação da endoprótese, não apenas eleva o patamar de tratamentos realizados no HEMC, mas também estabelece um marco na medicina ortopédica da região, reforçando o compromisso da Fundação do ABC com a inovação médica e a excelência no cuidado aos pacientes.