Audiência Pública na ALESP debate uso de animais vivos no ensino

Publicado em: 16/12/2016

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) recebeu em 22 de novembro a Audiência Pública “Uso de animais vivos no ensino: ainda é necessário?”. O evento discutiu a necessidade de manter animais como cobaias no ensino em cursos das áreas de Medicina, Biologia, Psicologia, Odontologia e Ciências Farmacêuticas e foi promovido pelo deputado estadual Feliciano Filho (PSC-SP), defensor da causa animal e autor de diversos projetos e leis estaduais de proteção e defesa dos animais, como a 15.316/2014, que proibiu o uso de animais em testes de produtos cosméticos, higiene pessoal, perfumes e seus componentes.

Professora da disciplina de Propedêutica Médica da Faculdade de Medicina do ABC, Dra. Odete Miranda

Professora da disciplina de Propedêutica Médica da Faculdade de Medicina do ABC, Dra. Odete Miranda

O evento na ALESP contou com presenças do juiz federal Anderson Furlan, da professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, Júlia Matera (premiada em concurso internacional sobre métodos substitutivos ao uso de animais no ensino), e da Dra. Odete Miranda, professora da Faculdade de Medicina do ABC – instituição de ensino que desde 2007 não utiliza animais nas aulas. Também fizeram parte da mesa da audiência representantes do Conselho Federal de Medicina Veterinária e da Faculdade de Jaguariúna (FAJ).

Antes da fala dos palestrantes foi exibido o documentário “Cobaia”, do ativista Marcos Spallini (do Holocausto Animal), que conta com a participação do biólogo Sérgio Greif, defensor dos métodos substitutivos. “Perninha”, um cão que foi cobaia da Universidade Federal de Viçosa (MG) e libertado por ação judicial, mediante manifestação popular, também esteve presente, logo no início da audiência, ilustrando o tema tão polêmico e essencial.

PROTEÇÃO ANIMAL

De acordo com o deputado Feliciano Filho, a utilização de animais no ensino é cada vez mais questionada, tanto no meio acadêmico, como na sociedade civil, seja por questões éticas ou científicas. “Há crescente tendência em situar os animais em uma esfera moral, reconhecendo-os como sujeitos de direito. As mais importantes universidades do mundo têm abandonado o seu uso”, afirma. Por meio do Projeto de Lei 706/2012, de sua autoria, o deputado defende que a utilização de animais no ensino restrinja-se a estudos observacionais em campo, exames clínicos que auxiliem o diagnóstico do paciente e animais que estejam de fato necessitando da intervenção de um profissional para restabelecimento de sua saúde. O projeto regulamenta, ainda, a utilização de material biológico e cadáveres adquiridos eticamente.

A Lei Federal 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais), em seu artigo 32, parágrafo 1º, estabelece que é crime a realização de procedimentos dolorosos ou cruéis em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

Para coibir a prática, atualmente existem no mercado diversos métodos substitutivos, como bonecos realísticos humanos para fins didáticos. Simuladores bovinos avançados têm um complexo sistema de órgãos internos, que permite a prática de apalpação e parto. Além disso, são diversos os simuladores caninos que viabilizam o treinamento de procedimentos como suturas, injeção venosa, cirurgias, raio X, entubação e estabilização espinhal. Outros simuladores, como o de felinos e de ratos, são igualmente realistas. Manequins também simulam a resistência e movimentos naturais de um animal vivo e permitem a prática segura antes de se iniciar o trabalho com animais verdadeiros. Além disso, existem softwares de alta qualidade que utilizam inteligência artificial e métodos in vitro.