Publicado em: 06/05/2016
Em 6 de maio de 2015, o Hospital Estadual Mário Covas (HEMC), em Santo André, realizava a primeira cirurgia de redesignação sexual – ou troca de sexo – da unidade, destinada à população transgênero atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, outras cinco instituições são autorizadas a realizar o procedimento: Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás; Hospital de Clínicas de Porto Alegre, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro; Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; e Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.
O aniversário de um ano da parceria entre o HEMC e o Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo, da Secretaria de Estado da Saúde (SES), foi celebrado com evento no auditório do hospital, em 4 de maio. Na programação constaram depoimento de transgênero que fez a cirurgia há 8 meses no ‘Mário Covas’, debate e exibição de documentário, assim como discussões com equipes médicas, de enfermagem, assistentes sociais e psicólogas sobre o programa estadual e os procedimentos realizados.
Diretor geral do Hospital Estadual Mário Covas, Dr. Desiré Carlos Callegari disse ao abrir a solenidade que as cirurgias são “uma contribuição ao empenho da sociedade em atender e superar as demandas que excluem direitos dos seus cidadãos”. Callegari destacou o sucesso da parceria com a SES e o desempenho do trabalho multidisciplinar de médicos, equipe de enfermagem, assistentes sociais e psicólogas e demais colaboradores do HEMC.
AVANÇO NECESSÁRIO
Para Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual DST/Aids-SP, a parceria entre a Secretaria de Saúde e o Hospital Mário Covas foi um avanço na atenção às pessoas transgênero, pois “além de ampliar a oferta de cirurgias de redesignação sexual, viabilizou uma unidade para capacitação de profissionais nesse tipo de intervenção”. Maria Clara ressaltou ainda que há 6 anos eram realizadas poucas cirurgias, cerca de 3 por ano. Devido à criação do programa, à crescente demanda e real necessidade de integração dos transgêneros à sociedade, foi necessário ampliar o serviço no âmbito do SUS. Inicialmente o Hospital das Clínicas passou a realizar uma cirurgia por mês, segundo ela, insuficiente, pois havia espera de até 8 anos para o procedimento. Com apoio do secretário de Saúde, Dr. David Uip, e inúmeras reuniões com a direção do Hospital Mário Covas, foi possível, a partir de 2015, realizar uma cirurgia por mês no equipamento do ABC.
A comemoração no HEMC contou com participação de Maria Elisa Ramos, diretora de Enfermagem do HEMC; do Médico Odair Gomes de Paiva, que falou sobre a importância do treinamento de novos profissionais; do médico Rodrigo Itocazzo Rocha, que abordou as técnicas cirurgias; e da assistente social do HEMC, Lucia Kamikava, que discorreu sobre acolhimento no pré e pós-operatório. A transexual Fernanda, operada no hospital, falou sobre sua experiência pessoal, enquanto outros depoimentos, como o da transexual Marta, sensibilizaram os presentes a partir da exposição situações, conflitos e das dificuldades enfrentadas em razão da questão do gênero.
A solenidade foi encerrada com a apresentação do documentário “Meu eu secreto”, que mostra casos de transexuais – inclusive de crianças – e relata a experiência vivida por familiares e sociedade. O debate foi conduzido por Judit Lia Busanello, diretora do Ambulatório para Travestis e Transexuais do CRT, com a participação das psicólogas Roberta de Faveri e Zélia Fátima Castro Franco, do Hospital Estadual Mário Covas.