Publicado em: 05/08/2016
O Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC organizou em 4 de agosto reunião comemorativa pelo Dia do Pediatra – celebrado oficialmente em 27 de julho. O encontro foi marcado por palestra do médico infectologista Dr. Guido Carlos Levi, que é doutor em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do comitê técnico assessor do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Apesar do grande prestígio na área de Infectologia, o convidado comandou aula sobre tema totalmente inusitado, fruto de estudos para seu próximo livro: “Mortes controversas de grandes compositores”.
Extremamente didático e profundo conhecedor do assunto, Levi prendeu a atenção da plateia contando detalhes sobre causas documentadas de mortes de compositores aclamados, e discutindo, à luz da Medicina contemporânea, hipóteses mais convincentes sobre os reais motivos do óbito.
“Duas vezes ao ano, no Dia do Pediatra e na confraternização de final de ano, procuramos realizar a reunião do departamento com temas que fujam do dia a dia da disciplina. A ideia é ampliar o horizonte de alunos e residentes, convidando pessoas para palestras que tratem de aspectos da humanidade e não somente de questões técnicas, em busca de formar profissionais mais completos”, explicou a chefe do Departamento de Pediatria da FMABC, Dra. Neusa Falbo Wandalsen.
Participaram do encontro a equipe docente, médicos e preceptores do departamento, além de alunos do 5º e 6º anos de Medicina (internato) e médicos residentes de Pediatria (R1 e R2), entre outros convidados.
MORTES CONTROVERSAS
O italiano Vincenzo Bellini (1801-1835) foi o primeiro compositor citado pelo Dr. Guido Carlos Levi. À época de sua morte haviam duas suspeitas principais: envenenamento ou cólera. Entretanto, nenhuma das duas foi confirmada após autópsia em uma época pré-microscópio. Anos mais tarde, já com o advento do microscópio, caso bastante semelhante em sintomas foi publicado por um médico. “Hoje parece muito evidente que a causa da morte teria sido a ameba, mas naquela época não era”, revelou Dr. Guido Carlos Levi.
Outro compositor lembrado foi Frédéric Chopin (1810-1849), cuja morte sempre foi atribuída à tuberculose. Porém, o primeiro episódio da doença foi identificado ainda na infância, entre 7 e 8 anos de idade. Levando em consideração as condições de tratamento da época, surpreende a morte somente aos 39 anos. Além disso, Chopin alternava longos períodos de plena saúde, sem manifestar quaisquer sintomas, e outros em que estava bastante debilitado, o que também pode ser considerado incomum frente às terapias disponíveis. “Estudiosos começaram a procurar outras causas possíveis além da tuberculose. Hoje especula-se que Chopin sofria de fibrose cística e que nunca teve tuberculose”, apontou Dr. Guido Carlos Levi.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) morreu cedo, aos 35 anos, vítima de febre reumática. Será? Os sintomas apresentados pelo compositor eram inchaço, grande dificuldade de movimentação e tremores labiais. Contudo, permaneceu lúcido até o último momento da vida. “Mozart teve dois episódios de febre reumática na infância e passou 25 anos sem manifestar a doença. Na procura por outras hipóteses, a glomerulonefrite sempre esteve entre as principais suspeitas. Mais recentemente, outras duas hipóteses surgiram”, afirmou Levi.
A primeira teoria seria de morte por trauma craniano, levando em consideração que Mozart sofria quedas com relativa frequência. Porém, nunca foi possível confirmar essa suspeita, pois não há certeza absoluta sobre a autenticidade do crânio analisado – ou seja, se a ossada indicada realmente era do compositor. A segunda possível causa – mais forte e aceitável – seria a triquinose, um tipo de infecção parasitária causada pela ingestão de carne crua ou malpassada contaminada por larvas. “Naquela época houve muitos relatos de casos com sintomas semelhantes aos de Mozart. Cistos com pequenos vermes dentro foram encontrados em uma mulher. A investigação seguiu até a estalagem onde a mesma morava e, no local, foi encontrada carne com vermes. Não é possível confirmar que Mozart faleceu em decorrência de triquinose, mas a doença encaixa nos sintomas”, garantiu o convidado da Pediatria.