Publicado em: 10/10/2014
O Centro de Tratamento do Pé Diabético do Hospital Anchieta recebeu em 18 de setembro visita do professor Mark Wainwright, da Liverpool John Moores University, no Reino Unido. Trata-se de especialista que desde 1987 trabalha com vários grupos internacionais no desenvolvimento de fotossensibilizadores e Terapia Fotodinâmica. Em 1988, publicou artigo sobre uso da terapia fotodinâmica com alta eficácia e baixo custo no tratamento de infecções localizadas, provocadas por bactérias, vírus fungos e parasitas – até mesmo cepas bacterianas resistentes a antibióticos mostraram-se sensíveis ao tratamento fotodinâmico. Os resultados inspiraram o cirurgião vascular Dr. João Paulo Tardivo, da Faculdade de Medicina do ABC, a aplicar a técnica no tratamento do pé diabético infectado.
Desde 2011, Dr. Tardivo comanda no Hospital Anchieta o Centro de Tratamento do Pé Diabético, onde oferece a terapia fotodinâmica – que utiliza a luz como base para o tratamento. A maioria dos pacientes chega com feridas abertas nos pés, bastante infeccionadas e que não cicatrizam mesmo após meses de tratamento com antibióticos. A fototerapia começa com introdução de um cateter pela ferida chegando até o osso comprometido. Por esse cateter é injetada solução azulada e sensível à luz, irrigando a região a ser tratada. Pela mesma ferida é inserido pequeno cabo de fibra ótica, que irradia luz ao pé de dentro para fora. “A molécula fotossensível azul capta a energia da luz e leva para dentro da bactéria, onde há oxigênio. Dessa mistura formam-se radicais livres que destroem a célula, combatendo a infecção”, explica Dr. Tardivo. Após o fechamento da ferida, a região continua a ser iluminada, porém externamente com lâmpadas de LED.
Reconhecimento internacional
Ensaio clínico desenvolvido no Anchieta apresentou resultados surpreendentes dos pacientes atendidos, mesmo na presença de infecções graves e frente a casos de osteomielite – quando a infecção penetra no organismo e atinge o tecido ósseo. “Conseguimos salvar da amputação mais de 70% dos pés tratados no ambulatório”, contabiliza Dr. João Paulo Tardivo, que utilizou os elevados índices de sucesso terapêutico para conclusão de Doutorado e publicação de artigos científicos em periódicos e livros internacionais.
Realizado somente no Brasil, o trabalho pioneiro despertou o interesse do professor Mark Wainwright, que em sua passagem pelo Brasil também participou de minisimpósio de Oxigênio Singlete, organizado pelo Instituto de Química da USP.
Em São Bernardo, o docente do Reino Unido foi recebido pelo infectologista e diretor do Hospital Anchieta, Dr. Adilson Cavalcante, pelo professor titular de Angiologia e Cirurgia Vascular da Faculdade de Medicina do ABC, Dr. João Antonio Correa, e pelo próprio Dr. João Paulo Tardivo. Professor Mark Wainright acompanhou uma tarde de atendimentos no ambulatório, assistiu ao tratamento de mais de 15 pacientes e declarou ter ficado “impressionado com a eficiência da equipe e eficácia do método”.
Todos os equipamentos utilizados são de baixo custo e foram desenvolvidos pelo próprio coordenador do centro, que estuda a terapia fotodinâmica há cerca de 15 anos. Em 2004, Dr. Tardivo já havia comprovado os benefícios da técnica em estudo de Mestrado que reuniu pacientes com câncer de pele – 80% responderam ao tratamento, sendo 60% de cura total e 20% de melhora.
Inaugurado em março de 2011, o Centro de Tratamento do Pé Diabético funciona duas vezes por semana e está vinculado ao Grupo de Cirurgia Vascular e à Faculdade de Medicina do ABC. A equipe conta com profissionais das áreas de cirurgia vascular, endocrinologia, ortopedia, enfermagem, psicologia e podologia. Os pacientes são encaminhados pela rede pública municipal. “Também oferecemos suporte educacional e orientações sobre higiene, muito importantes para prevenção de novas infecções. Já são mais de 190 pacientes atendidos”, encerra o coordenador.