Publicado em: 03/07/2015
A Faculdade de Medicina do ABC acaba de publicar artigo no periódico científico Tumor Biology (http://link.springer.com/article/10.1007/s13277-015-3529-5) sobre técnica pioneira de perfilhamento genético do câncer de mama. Trata-se de exame que subsidia a equipe médica com o diagnóstico molecular da doença, fornecendo elementos que permitem a indicação de tratamentos mais precisos, melhorando o prognóstico. Hoje o exame mais conhecido do gênero é o Oncotype DX, disponível no país em poucos serviços particulares ao custo de aproximadamente R$ 9.000 (US$ 3.000). A patente para a técnica brasileira já foi solicitada ao Ministério da Saúde e o exame estará disponível por R$ 1.200 – ou seja, 85% mais barato.
O carcinoma de mama é a causa mais frequente de mortalidade por câncer em mulheres no país, com risco esperado de 49 casos a cada 100 mil brasileiras, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). A elevada incidência da doença reforça a necessidade de biomarcadores prognósticos mais efetivos, capazes de estratificar os riscos de recaída (recidiva) e preveni-las a partir da personalização dos tratamentos. “Os carcinomas mamários são heterogêneos do ponto de vista molecular. Dessa forma, a avaliação das características anatomopatológicas, associada ao perfilhamento gênico do tumor e a biomarcadores relacionados ao processo metastático – como a pesquisa de células tumorais circulantes – podem proporcionar visão mais ampla do processo tumoral, fornecendo informações importantes de natureza prognóstica e preditiva”, explica o professor titular de Oncologia e Hematologia da FMABC e coordenador do estudo, Dr. Auro del Giglio.
Atualmente existem três plataformas de perfilhamento gênico com utilidade prognóstica potencial – ou seja, que podem influenciar diretamente na definição do tratamento de mulheres com câncer de mama: plataforma de Rotterdam, Oncotype e Mammaprint. Entre as opções, a Oncotype reúne vantagens operacionais que a tornam preferida entre as demais.
Tanto a plataforma Oncotype quanto a nova técnica desenvolvida pela Faculdade de Medicina do ABC englobam a análise de 21 genes envolvidos em importantes processos ligados ao câncer de mama, como invasão tumoral, proliferação celular e vias relacionadas a receptores hormonais. “O exame permite visualizar todo o perfilhamento genético do câncer de mama. A partir dos resultados é gerado um índice, que indica as possíveis respostas da paciente antes mesmo do início do tratamento. Graças a esse ‘score’ é possível saber quais pacientes se beneficiariam de quimioterapia para prevenção de recidivas (retorno da doença), assim como os casos em que a hormonioterapia traria melhor prognóstico”, exemplifica o coordenador do Laboratório de Análises Clínicas da FMABC e autor da pesquisa, Dr. Fernando Luiz Affonso Fonseca, que completa: “É uma ferramenta prognóstica fundamental para melhorar os resultados dos tratamentos e que, devido ao alto custo, estava restrita a reduzida parcela da população. A partir de agora, com uma técnica nova, segura e mais acessível, esperamos que esse benefício seja disponibilizado em larga escala, inclusive com incorporação pelo Sistema Único de Saúde e por operadoras de planos de saúde privados”.
PACIENTES E METODOLOGIA
A eficácia do novo exame de perfilhamento genético do câncer de mama foi comprovada a partir de estudo que incluiu 167 mulheres com carcinoma mamário em estágios I, II e III e indicação de quimioterapia adjuvante. As pacientes foram encaminhadas para a pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC pelo Hospital Estadual Mário Covas de Santo André, Hospital de Câncer de Barretos (Fundação Pio XII) e Hospital Israelita Albert Einstein.
As mulheres foram acompanhadas durante 29 meses e passaram por procedimentos padronizados pela American Society of Clinical Oncology, entre os quais visitas clínicas periódicas, mamografia anual e demais exames solicitados em caso de suspeita clínica ou para avaliação de sintomas.
A pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC foi aceita pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e contou com subsídio de quase R$ 500 mil. Além do coordenador, Dr. Auro del Giglio, e do Dr. Fernando Luiz Affonso Fonseca, também assinam o estudo pela FMABC as pesquisadoras Beatriz Alves, Flavia de Souza e Renata Kuniyoshi.