Fórum busca centralizar tratamento do câncer de bexiga no SUS

Publicado em: 11/12/2020

Evento virtual realizado em 11 de dezembro teve presenças dos doutores Jean Gorinchteyn, David Uip, Nelson Teich, Paulo Hoff, Claudio Lottenberg, Fernando Maluf, Adriana Berringer e César Eduardo Fernandes, além de políticos e empresários, como Ana Amélia Lemos, deputada Silvia Cristina e Luiza Helena Trajano

 

O professor titular de Urologia da FMABC, Dr. Sidney Glina, e o médico responsável pelo Ambulatório de Câncer de Bexiga e chefe do grupo de Uro-oncologia da FMABC, Dr. Fernando Korkes

O câncer de bexiga é extremamente agressivo, caro, letal e complexo de tratar. Mesmo assim, a mortalidade pela doença caiu 93% nas cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano, no ABC Paulista. Qual o segredo? A centralização dos atendimentos. Em 2018, a disciplina de Urologia do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) deu início ao projeto Cabem Mais Vidas (CABEM), específico para pesquisa e assistência relacionadas à doença. Como a cadeira está envolvida nos atendimentos urológicos das três cidades do ABC, ficou fácil mapear o funcionamento dos trabalhos e instituir mudanças. Os resultados são surpreendentes e estiveram em discussão, em 11 de dezembro, durante o “1° Fórum de debate sobre a centralização do tratamento do câncer de bexiga no SUS”. A atividade foi transmitida on-line, das 8h às 13h30, pelo site www.centralizasus.com.br.

A ideia do evento médico-político é justamente debater políticas públicas relacionadas ao câncer de bexiga e discutir a importância da centralização desse tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). “Os pacientes sempre foram tratados, mas resolvemos juntar as pontas e avaliar o que ocorria com eles ao longo de todas as etapas do tratamento. Quando vimos os números ficamos chocados. A mortalidade era muito alta, de cerca de 50% em muitos centros, o que é completamente discrepante da maior parte do mundo. Em centros de referência dos Estados Unidos, por exemplo, a mortalidade média é de 5%”, informa o médico responsável pelo Ambulatório de Câncer de Bexiga e chefe do grupo de Uro-oncologia da FMABC, Dr. Fernando Korkes, que completa: “Resolvemos que era hora de mudar esse cenário e foi então que surgiu o projeto CABEM, cuja sigla é uma referência ao Câncer de Bexiga Músculo-Invasivo.

A presidente da FUABC, Dra. Adriana Berringer Stephan

Diante dos resultados positivos, a meta agora é expandir o trabalho e reduzir em 10 vezes a mortalidade no Estado. “O projeto trouxe melhoria muito grande no atendimento aos pacientes da região do ABC e levamos esses números ao conhecimento da Secretaria de Estado da Saúde. O fórum tem esse caráter médico-político justamente porque precisamos unir forças para discutir políticas públicas que podem mudar a condução dos tratamentos do câncer de bexiga no Estado e no País”, considera o professor titular de Urologia da FMABC, Dr. Sidney Glina.

REDE PAULISTA

A partir da drástica redução da mortalidade na região do ABC, o trabalho do CABEM foi alçado à esfera estadual, com objetivo de aperfeiçoar e replicar o modelo, dando origem à RECABEM, a Rede Paulista de Câncer de Bexiga. Integram essa rede os 17 maiores serviços do Estado que atendem casos de câncer de bexiga no Sistema Único de Saúde, entre os quais o A.C. Camargo Cancer Center, ICESP, Hospital de Amor de Barretos, Santa Casa de São Paulo, Unicamp, Hospital Santa Marcelina, Unifesp e Fundação do ABC.

Ao todo são 140 profissionais envolvidos, entre cirurgiões, urologistas, oncologistas e radioterapeutas, por exemplo. O objetivo de tudo isso é um só: reduzir as taxas de mortalidade pela doença.

“Cada município tem a sua forma de assistência. A bandeira que defendemos é a mesma de outros países que obtiveram sucesso no tratamento dessa doença tão complexa: centralizar o atendimento”, afirma o Dr. Fernando Korkes. Para o especialista, é necessário ter poucos centros tratando esses pacientes. “Não adianta todos os serviços oferecerem esse tipo de assistência. O câncer de bexiga é o mais caro entre todos os cânceres, segundo estudos norte-americanos. Com a pulverização de serviços, o SUS paga uma conta muito alta, com resultados muito ruins”.

Ao longo do tempo, o grupo do CABEM tem estudado o assunto em diversas frentes e mapeou, por exemplo, 92 centros que tratam câncer de bexiga somente no Estado de São Paulo. “Na Inglaterra e na Alemanha, por exemplo, o número total de centros que tratam esses pacientes é menos da metade do nosso Estado. Ou seja, os 17 centros que integram o RECABEM teriam condições de atender de maneira uniforme 100% dos pacientes de São Paulo, tanto pelas condições geográficas como pela demanda”, assegura o urologista da FMABC e membro da comissão organizadora do Fórum, Dr. Guilherme Andrade Peixoto.

O reitor do Centro Universitário FMABC, Dr. David Uip

TIME DE PESO

Um time de peso foi convidado para discutir o case do ABC e as maneiras de ampliar essa experiência para o Estado e o País, mudando definitivamente a realidade do tratamento do câncer de bexiga no SUS. O Fórum tem apoio da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e da SBU regional São Paulo, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Instituto Oncoguia, APM São Bernardo do Campo e Diadema, Instituto Vencer o Câncer, Centro Universitário FMABC e da Fundação do ABC.

Entre os especialistas confirmados como debatedores estão os doutores David Uip, Nelson Teich, Paulo Hoff, Claudio Lottenberg, Fernando Maluf e Adriana Berringer Stephan, além dos secretários de Saúde das cidades do ABC Paulista: Márcio Chaves (Santo André), Geraldo Reple Sobrinho (São Bernardo) e Regina Maura Zetone (São Caetano).

Também marcarão presença o secretário de Estado da Saúde, Dr. Jean Gorinchteyn; o presidente eleito da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. César Eduardo Fernandes; o presidente da SBU, Dr. Antonio Carlos Lima Pompeo; a presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dra. Clarissa Mathias; a fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz de Camargo Barros; a empresária Luiza Helena Trajano; a deputada federal Silvia Cristina Amancio Chagas; a secretária de Relações Federativas e Internacionais do Rio Grande do Sul e ex-senadora, Ana Amélia Lemos, entre outros convidados.

Outras informações, inscrições e a programação completa do “1° Fórum de debate sobre a centralização do tratamento do câncer de bexiga no SUS” no site www.centralizasus.com.br.

CASE DE SUCESSO: CABEM

O projeto CABEM teve início em 2018 com a criação de um ambulatório específico no campus universitário da FMABC, com foco na otimização e uniformização das metodologias de tratamento do câncer de bexiga. Antes da iniciativa, 22 de 59 pacientes em tratamento foram à óbito nos primeiros 90 dias após o tratamento. A partir do novo trabalho, em um segundo grupo com 35 pacientes observou-se somente um óbito no mesmo período. Além disso, o tempo médio de internação hospitalar caiu de 14 para 5 dias. “Atualmente temos 94 pacientes tratados e somente 3 morreram em decorrência do tratamento”, acrescenta Fernando Korkes.

Os tratamentos seguem realizados nos hospitais de referência nas cidades do ABC. Porém, quando os pacientes recebem o diagnóstico da doença, são encaminhados ao ambulatório do Centro Universitário FMABC para que seu cronograma de tratamento seja rigorosamente elaborado. Depois, retornam às unidades de origem. O sucesso da iniciativa baseia-se em três diretrizes: avaliação adequada do paciente com câncer de bexiga, otimização de recuperação cirúrgica e suporte perioperatório multiprofissional.

“Centralizamos no ambulatório da FMABC todas as decisões estratégicas dos pacientes tratados nos hospitais públicos de Santo André, São Bernardo e São Caetano com diagnóstico de câncer de bexiga. Dessa forma, os tratamentos passaram a seguir protocolos de acordo com diretrizes internacionais de tratamento da enfermidade, mas individualizando de acordo com o perfil dos pacientes. A retirada da bexiga, por exemplo, é uma situação extrema que visa a cura do câncer. Em algumas situações, no entanto, é possível preservar a bexiga sem prejudicar as chances de cura. Sempre que possível buscamos essa alternativa. Um bom planejamento é fundamental para a cura e para a manutenção da qualidade de vida”, garante Korkes.

Quando o câncer se aprofunda nas camadas da bexiga, muitas vezes é indicada a remoção do órgão. Contudo, em algumas situações as equipes conseguem adotar tratamentos efetivos e menos radicais. São os chamados protocolos de preservação de órgãos, que podem envolver quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia. Quando a cirurgia é necessária, as equipes seguem o protocolo ERAS (Enhanced Recovery After Surgery), que busca otimizar a recuperação do paciente submetido a cirurgias de grande porte.