HMU consolida protocolo de assistência humanizada ao parto normal

Publicado em: 03/06/2015

O Hospital Municipal Universitário (HMU) dá mais um passo importante para promover o cuidado humanizado e incen­tivar o parto normal. Agora, a equipe de médicos e de enfermeiros segue protocolo pactuado com o Ministério da Saúde, com série de procedimentos e regras que devem ser cumpridos todas as vezes que uma par­turiente dá entrada na unidade. O objetivo é valorizar o parto natural, diminuir o número de cesáreas, padronizar a assistência e garan­tir às mulheres o direito de participar ativa­mente do nascimento de seus filhos.

As medidas colocadas em prática incluem capacitação profissional, adequação de ma­teriais e equipamentos, revisão das rotinas e melhorias na ambiência. Hoje, a maioria dos partos realizados no HMU, cerca de 60%, são normais; o índice está dentro da média nacio­nal para partos na rede pública. A proporção só não é ainda maior porque o hospital aten­de 100% da demanda de partos de alto risco – que muitas vezes exigem intervenção cirúr­gica para evitar o sofrimento fetal e garantir a saúde da mãe -, e encaminha 20% dos partos de baixo risco para hospital estadual. “As práti­cas da assistência humanizada já eram execu­tadas. Nós unificamos essas ações e criamos uma espécie de manual. Agora todos os itens são empregados de maneira individualizada, atendendo a necessidade de cada usuária”, explica a gerente de Enfermagem do HMU, que participou da elaboração do documento.

O protocolo, baseado nas diretrizes da Rede Cegonha, começa a ser aplicado quan­do a mulher dá entrada no Pronto-Socorro Ginecológico Obstétrico do HMU. Ali, ela é encaminhada para a sala de classificação. Se constatado que a paciente é de baixo ris­co – ou seja, não apresenta intercorrências como hipertensão, diabetes ou rompimento da bolsa gestacional antes da 37ª semana – o parto será conduzido pela enfermeira obste­tra e acompanhado pela equipe médica.

“Nossa proposta não exclui o médico, pelo contrário, compartilhamos o cuidado. Queremos a integração. Somos um hospital-escola, então para nós é fundamental que os alunos de Medicina e os residentes se fami­liarizem com as técnicas não cirúrgicas e não medicamentosas, sendo menos intervencio­nistas, conforme as orientações do Ministé­rio da Saúde”, afirma a gerente.

ALÍVIO DA DOR

Mulheres que precisam ter o parto induzi­do agora aguardam em sala específica, com três leitos, batizada de quarto Miss, no segun­do andar do HMU. No centro cirúrgico, na uni­dade de pré-parto, a parturiente tem acesso a massagens e banhos terapêuticos no chuvei­ro e também são ensinados exercícios respi­ratórios, além de ofertados elementos como a bola de Pilates, o espaldar (conjunto de barras de madeira fixadas na parede) e o “cavalinho”, espécie de cadeira com assento invertido.

“Esses instrumentos podem ser usados para aliviar a dor e o desconforto, além de pro­moverem o alongamento da região lombar, o re­laxamento muscular e facilitar a dilatação. Nos­so papel é oferecer esses recursos à mulher e informar os benefícios. Ela é livre para escolher o que se sente à vontade para fazer”, comenta a enfermeira obstetra Maria Aparecida Riva de Andrade, coordenadora do Cuidado Obstétrico.

A paciente deve classificar sua dor numa escala de zero a dez e pode requerer o uso de analgesia para controlar o sintoma. Regras tradicionais, que mantinham a mulher estática em trabalho de parto, deitada como se esti­vesse num exame ginecológico, e em jejum, foram abolidas, assim como a episiotomia de rotina. A mulher é estimulada a caminhar pelo espaço e a ficar na posição que lhe for mais confortável – sentada no leito ou numa banqueta, ajoelhada, agachada, de lado, em quatro apoios, dentre outras.

“Nossa missão é que a mulher, ao ser questionada sobre seu parto, tenha a lem­brança de que foi uma experiência maravilho­sa. E não algo marcado pela dor e pela dúvi­da. Queremos que ela não se sinta invadida”, sustenta Maria Aparecida.

ALOJAMENTO CONJUNTO

Outra prática já adotada pelo HMU e que integra o protocolo é o método pele a pele, em que o bebê é colocado junto ao peito da mãe logo após o nascimento, onde permanece por, pelo menos uma hora, ainda no centro cirúrgico. O hos­pital fornece uma faixa elástica para aco­modar melhor o recém-nascido e dar mais segurança à mãe.

“Isso ajuda a manter a temperatura do bebê e permite que ele comece a sentir a textura da pele e das mamas. É um im­portante aliado no sucesso da amamenta­ção, e também na construção do víncu­lo”, explica a gerente de enfermagem. Do centro cirúrgico, mãe e bebê seguem jun­tos para o alojamento, e não se separam.

Antes de receber alta, a mulher é con­vidada a responder questionário sobre a assistência e orientações recebidas duran­te o trabalho de parto. As informações vão orientar a equipe quanto às possíveis melhorias que devem ser implementadas para qualificar o cuidado.

A paciente também preencherá for­mulário no momento em que ingressar no HMU, o chamado plano de parto. O objetivo é saber como foi feito o pré-natal, quais são as expectativas da partu­riente em relação ao nascimento do seu bebê e se ela conhece os benefícios do parto normal, além de tirar dúvidas sobre o procedimento. “São ferramentas para nortear nosso trabalho e saber, caso a caso, como lidar com cada usuária”, afir­ma a coordenadora Maria Aparecida.

QUALIFICAÇÃO

A gerente de enfermagem ressalta que a qualificação permanente dos profis­sionais que trabalham na assistência direta ao parto é fundamental para o sucesso do protocolo. Por isso, a equipe do HMU está em constante formação.

Desde novembro, cerca de 80 médi­cos e enfermeiros passaram pela formação da Also (sigla em inglês para Suporte Avan­çado de Vida em Obstetrícia), que capaci­ta trabalhadores da saúde para lidar com emergências obstétricas como hemorra­gias, reanimação materna, lacerações de terceiro e quarto graus e trabalho de parto prematuro. O curso, com aulas teóricas e práticas, é o único reconhecido pela Fede­ração Brasileira de Ginecologia e Obstetrí­cia (Febrasgo) e concede certificado me­diante aprovação do aluno na avaliação final.

“Estou maravilhada com o cuidado que recebi”

Mesmo com poucas horas de vida, Avivia já tinha arrancado centenas de suspiros dos pais. A menina nasceu no HMU na manhã de uma segunda-feira chuvosa de março; a mãe, Joana Pau­la Pereira da Silva, realizou o sonho da maternidade e também o do parto hu­manizado. “Queria que fosse o mais na­tural possível, sem intervenções. Já tinha lido muito a respeito. Mas não pensei que teria um atendimento com tanta qualidade na rede pública”, conta.

Joana deu entrada no hospital às 2h30, já com contrações. Avivia nasceu às 11h30, com a mãe em posição vertical, sen­tada num banquinho. “Não quis anestesia. Recorri ao chuveiro, massagem, fiz os aga­chamentos, usei a bola de Pilates, cavalinho. Chegou o momento em que achei que não aguentaria, mas a equipe passa muita con­fiança. Estou maravilhada com o cuidado que recebi. Foi muito melhor do que imaginei. Nem na rede particular de saúde fui tão bem atendida.” Ela diz também ter se impressio­nado quando a enfermeira colocou Avivia em seus braços imediatamente após o nascimento. “É inexplicável essa sensação”.

O pai, Elvis Domingues da Silva, não apenas acompanhou de perto o nasci­mento de Avivia. Ele participou. Amparou Joana enquanto ela fazia força no período expulsivo, fez massagens para aliviar a dor, cortou o cordão umbilical que ligava a fi­lha à mãe. “Senti que trabalhamos juntos. Foi lindo. Se tivesse sido uma cesárea, ja­mais teríamos essa experiência. A equipe enfatizou que tudo seria como a Joana quisesse. E foi assim mesmo. Só temos a agradecer por esse momento”.