Publicado em: 22/05/2015
O Hospital Anchieta (HA) iniciou o serviço de cuidados paliativos para pacientes com câncer. O objetivo é garantir qualidade de vida aos usuários que estão na fase avançada da doença, e também aos que enfrentam efeitos colaterais severos durante a terapia. A assistência multiprofissional inclui o controle dos sintomas físicos, psicológicos e sociais e também se estende à família.
Coordenadora do serviço, a médica Ana Claudia de Oliveira Lepori explica que o trabalho é fundamental para proporcionar dignidade e conforto a quem já não responde ao tratamento curativo. Isso se faz cada vez mais necessário em hospitais que tratam doenças graves, como é o caso da oncologia em estágios avançados.
“O cuidado paliativo é uma proposta inovadora, mas já adotada por importantes serviços de saúde, com o propósito de mudar a visão e também as nossas ações diante do fim da vida. O que fazer quando não é possível curar? Não podemos abandonar esse paciente. Precisamos atuar para aliviar seu sofrimento”, explica.
A equipe é composta por assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, farmacêutico e nutricionista, todos profissionais que já atuavam no Anchieta antes da chegada da médica especialista. Junto com os médicos oncologistas, eles avaliam os usuários internados que passarão a ser atendidos pelo serviço. O primeiro passo é a conversa com o próprio paciente e seus familiares, para explicar as condições clínicas e definir os rumos do cuidado. “Há decisões que precisam ser tomadas pelo paciente, se ele estiver consciente, ou pelos seus parentes mais próximos. Como por exemplo, até que ponto devemos intervir”, comenta.
BASE DO ATENDIMENTO É SABER OUVIR
Essa nova prática também vai contribuir para o processo formativo dos futuros médicos, uma vez que o HA recebe os residentes da Oncologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). Como o método valoriza a escuta e os desejos do paciente, é um aprendizado importante para que se tornem mais sensíveis ao tema. “O profissional precisa saber ouvir. Isso é a base do diagnóstico bem-feito. O exame clínico não diz tudo. Do ponto de vista técnico, é preciso ministrar remédios muito fortes para controle da dor, os opióides. A maioria não sabe como fazer, mas aqui terão esse conhecimento. Quem sai ganhando, com certeza, é o usuário, que terá acesso ao atendimento humanizado”.
O serviço também atende pessoas em sessões de quimioterapia ou radioterapia que, devido à agressividade da medicação, apresentam sintomas complexos. O quadro, se não administrado, pode inviabilizar a continuidade da medicação. “Descontrole da dor ou perda excessiva de peso são situações comuns enfrentadas por quem luta contra o câncer. Nesses casos, o que se faz é intervir para que se possa suportar as terapias”.
O cuidado paliativo lida diariamente com questões que vão além da medicina. Ana Claudia cita o caso de um paciente que, no fim da vida, internado no HA havia dois meses, tinha o sonho de oficializar a união de mais de 20 anos com sua esposa. Apesar dos esforços da equipe do hospital e da família, não foi possível. “É um trabalho que nos ensina muito. Aprendi que nesse tipo de especialidade nada se pode deixar para depois. E que a conversa, muitas vezes, é um remédio importantíssimo”.