Hospital e Pronto-Socorro Central adota classificação de risco em São Bernardo

Publicado em: 10/10/2014

O Hospital e Pronto-Socorro Central (HPSC) de São Bernardo im­plementou neste ano mudanças no atendimento das situações de urgência e emergência. O serviço adotou o Protocolo de Man­chester, sistema internacional usado para classificar os usuários de acordo com a gravidade do quadro clínico. Agora, quanto mais crítico o estado de saúde do paciente, mais rapidamente ele receberá assistência, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde.

Em setembro, o Protocolo de Manchester também foi adotado nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) União/ Alvarenga e Baeta Neves. O objetivo da Secretaria de Saú­de do município é que, até o início do primeiro semestre de 2015, as outras sete UPAs já apliquem o novo critério para atendimento, em substituição à ordem de chegada.

A medida visa garantir que pessoas em sofrimento intenso, com risco de morrer ou de ter o quadro clínico agravado, sejam atendidas primeiro. Isso aumenta a confiança do paciente em relação ao serviço – com a garantia de que será imediatamente assistido se estiver em estado grave –, e dá mais segurança aos trabalhadores, por estabelecer parâmetros de atenção.

Ao chegar ao HPSC, o paciente é avaliado por enfermeiros treinados, que constatam as queixas e sintomas e o classificam em uma entre cinco categorias, de acordo com a necessidade de atendimento: vermelha, laranja, amarela, verde e azul. Este procedimento dura em média três minutos e o tempo de espera varia conforme a classificação e com a movimentação na unidade.

Usuários identificados pela cor vermelha representam casos de emergência, gravíssimos, e são atendidos de imediato. Em seguida, a prioridade é dos muito urgentes, de cor laranja, que sinaliza casos graves, com risco significativo e que devem ser as­sistidos o mais rápido possível. O terceiro nível é o das situações urgentes, de gravidade moderada e sem risco imediato, seguido pelos pouco urgentes (verde), que têm condições de aguardar atendimento, assim como os não urgentes (azul), que também podem esperar ou procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS).

“Nosso objetivo principal é salvar vidas, além de organizar o trabalho da equipe. É importante ressaltar que vamos continuar atendendo a todos que procurarem o hospital, mesmo os casos sem complexidade”, explica a superintendente do HPSC, Renata Martello.

O Protocolo de Manchester tem ainda papel educativo. É comum usuários recorrerem a unidades 24 horas para resolver situações de baixo ou nenhum risco, que poderiam ser acompa­nhadas pelo sistema ambulatorial. A expectativa é que esses pa­cientes, com a consolidação do sistema de classificação de risco, optem por utilizar mais a rede de atenção básica, que também está sendo reforçada com a reforma e ampliação de UBSs.

“Além de qualificar a atenção, o Protocolo de Manchester servirá como base para construção do diálogo com o usuá­rio. É mais uma ferramenta para identificar o perfil da nossa demanda para continuar melhorando a estrutura”, avalia a se­cretária municipal de Saúde, Odete Gialdi.

O HPSC atende cerca de 700 pessoas por dia em casos de urgência e emergência em seis especialidades: Clí­nica Médica, Cirurgia Geral, Odontologia, Oftalmologia, Ortopedia e Pediatria. A unidade continua a garantir atenção prioritária a idosos, pessoas com deficiência e gestantes.

Equipes passam por treinamento

Médicos e enfermeiros do HPSC passaram por treinamento sobre o Protocolo de Manchester, realizado em julho pelo Gru­po Brasileiro de Classificação de Risco (GBCR). A organização, de direito privado e sem fins lucrativos, é a única autorizada a formar profissionais, auditar e apoiar a implementação do siste­ma no país. A palestra de sensibilização, que abriu o curso, foi realizada no auditório do Hospital de Clínicas Municipal (HC).

A enfermeira e especialista em gestão, Bárbara Lopes de Brito Torres, coordenadora técnica do GBCR, conta que são inúmeros os benefícios colhidos pelos locais que adotaram o modelo. “Uni­dades foram reformadas e melhor equipadas, a gestão de leitos me­lhorou. O principal beneficiado, sem dúvida, é o paciente”, avalia.

No Brasil, segundo o grupo, cerca de 70 serviços de urgên­cia e emergência utilizam o sistema, na rede pública e privada. Bárbara observa que a mudança nos critérios que ordenam a assistência ganhou, nesses locais, o apoio da população, à medi­da que os esforços do Poder Público foram se convertendo em tratamento digno aos usuários. “O paciente sabe que não vai morrer na fila esperando para ser atendido. Isso faz toda a diferença. Mesmo os que têm que aguardar mais, como no caso dos classificados pela cor azul, têm a segurança de que serão priorizados se precisarem”, explica.

Sistema está presente em 19 países

O Protocolo de Manchester foi criado pelo médico Kevin Mackway-Jones, que trabalhava num hospital de urgências e emergências na cidade inglesa de mesmo nome. Após se debru­çar sobre o perfil dos atendimentos e os índices de mortalidade de pacientes que davam entrada no serviço, ele entendeu que era preciso criar mecanismos de triagem.

Na Inglaterra e em todo o mundo, o fenômeno se repetia: as unidades 24 horas estavam superlotadas e se tornaram inefi­cientes. Já não cumpriam sua vocação, que era assistir situações imprevistas com risco de morte ou agravo à saúde. Com a or­dem de chegada, era comum um usuário resfriado passar pelo médico antes de outro com dor torácica e chance de infarto. Daí a necessidade de reorganizar a fila e disciplinar a demanda.

O método foi implementado em 1997 no Manchester Royal Infirmary e desde então é adotado por unidades de saúde de 19 países, com destaque para Portugal, que tem o sistema em quase 100% de sua rede.

O protocolo se baseia em categorias de sinais e sintomas e pos­sui 52 fluxogramas, selecionados a partir das queixas apresentadas pelos pacientes. Cada um deles contém uma série de discrimina­dores, que vão orientar as perguntas objetivas feitas pela equipe de enfermagem e que permitem a determinação de prioridades.

Os critérios são os mesmos em todo o mundo, de modo que um paciente grave seja identificado tanto no interior da Su­écia quanto em Sergipe, por exemplo. O livro que orienta a prática está na terceira edição. Um encontro anual é feito com representantes de diversas localidades para melhorar os fluxo­gramas e aumentar a exatidão da classificação de risco.

Novidade chega às UPAs Baeta Neves e União/Alvarenga

Três unidades de atendimento de urgência e emergência de São Bernardo adotam o Protocolo de Manchester. Desde o fim de junho, o novo sistema de classificação de risco vinha sendo utilizado no Hospital e Pronto-Socorro Central. Em setembro, passou a ser empregado também nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) Baeta Neves e União/Alvarenga. Nas outras sete UPAs, o protocolo deverá entrar em vigor até o início do primeiro semestre de 2015.

De acordo com a gerente da UPA Baeta Neves, Vanilza Pereira de Lima, 60% dos atendimentos registrados mensalmente na unidade são classificados como de pouco risco.

A nova classificação ajudou a agilizar o atendimento da dona de casa Maria do Carmo Evangelista, que chegou à unidade do Baeta Neves com problemas de pressão arterial. “Minha esposa estava descompensada e já não conseguia falar. Entramos direto na sala vermelha e foi prontamente atendida”, disse o autônomo Reinaldo Pereira Ferreira.

Mesmo quem teve de esperar por atendimento não se queixou do novo sistema de classificação. Foi o caso do digitalizador Renan Barros Oliva, que esperou por 30 minutos para ser atendido pelo médico generalista. “Não vejo problema em um paciente que precisa de cuidados mais urgentes ser atendido na frente”, disse.