Publicado em: 03/10/2018
A Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André, via Centro de Estudos de Saúde Coletiva do ABC (CESCO), acaba de oficializar parceria com a Universidade de Birmingham, da Inglaterra, para elaboração de estudo que irá avaliar a eficácia dos meios de diagnóstico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) na Atenção Primária – enfermidade que mata 40 mil brasileiros por ano e é causada principalmente pelo tabagismo. Com duração de três anos, a pesquisa terá início em novembro e envolverá 1.080 pacientes já acompanhados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de São Bernardo.
A iniciativa integra o projeto Breathe Well (Respire Bem), que será conduzido simultaneamente em centros acadêmicos de outros três países considerados subdesenvolvidos: China, Geórgia e Macedônia. O estudo será financiado pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde, do Reino Unido, ou National Institute for Health Research (NIHR). Segundo pesquisa da universidade, 90% das mortes por DPOC ocorrem em países de baixa e média renda.
A forma mais comum de diagnosticar a DPOC, popularmente conhecida como bronquite crônica ou enfisema pulmonar, é utilizando um espirômetro. O “exame do sopro” é feito por um médico e mede o fluxo e a velocidade do ar dos pulmões. O objetivo do estudo é avaliar novos métodos, de baixo impacto financeiro, para que as redes de saúde possam antecipar o diagnóstico da doença, hoje desconhecida por mais da metade dos brasileiros. Falta de ar, fadiga muscular e cansaço estão entre os principais sintomas.
“Atualmente, quando há suspeita de DPOC, todos os pacientes são encaminhados para a espirometria. Muitos, porém, nem de tratamento medicamentoso precisam. A doença é subdiagnosticada. Nosso objetivo é avaliar métodos de baixo custo eficazes para que os pacientes tenham rápido acesso ao diagnóstico precoce, podendo retardar a progressão da doença. Posteriormente, iremos comparar os resultados com os exames de espirometria”, explica a Dra. Sonia Maria Martins, professora do Departamento de Saúde da Coletividade da FMABC, médica de Família e Comunidade, coordenadora do Grupo de Trabalho de Problemas Respiratórios e Tabagismo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) e membro do International Primary Care Respiratory Group (IPCRG). A especialista é a pesquisadora principal do projeto no Brasil.
A docente coordena o estudo no País com o pneumologista e professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Rafael Stelmach, junto a outros pesquisadores brasileiros. “Existe trabalho constante sobre prevenção de diabetes e hipertensão na Atenção Primária, mas dificilmente há algo relacionado aos cuidados de saúde respiratória”, disse o professor, também líder acadêmico do projeto. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), fumantes habituais têm 90% de chance de sofrer da doença.
Em 25 de setembro, representantes da universidade britânica e da Faculdade de Medicina do ABC estiveram reunidos no campus universitário em Santo André para discussão do estudo. “Apresentar a FMABC para os pesquisadores e integrar a iniciativa é enriquecedor para a nossa instituição, especialmente pela possibilidade de estreitar a cooperação científica e acadêmica junto a um projeto de relevância internacional e em benefício da saúde da população”, disse a professora titular da disciplina de Saúde Coletiva da FMABC e responsável pelo CESCO, Dra. Vânia Barbosa do Nascimento.
Serão recrutados pacientes com idade acima de 40 anos, com hipertensão – doença geralmente associada à DPOC – e que sejam acompanhados pelas UBSs. Os pesquisadores utilizarão métodos como questionário clínico baseado em sintomas, pico de fluxo respiratório e microespirometria. Para execução do trabalho de triagem e rastreamento dos pacientes, todas as equipes das unidades passarão por treinamento. O estudo será conduzido sob três pilares: diagnóstico precoce, tratamento adequado e reabilitação pulmonar.
HISTÓRICO
A Universidade de Birmingham é especialista em pesquisas clínicas sobre saúde respiratória em diversas regiões do mundo. Pesquisadores britânicos avaliam que a conscientização sobre a DPOC é pequena, especialmente em países subdesenvolvidos, onde há pouco acesso ao tratamento e quase inexistem campanhas de prevenção. A instituição tem objetivo de construir parcerias acadêmicas com especialistas destas localidades para auxiliar no enfrentamento da doença, qualificar o manejo dos pacientes com DPOC, descobrir novas e acessíveis formas de tratamento e adaptar as abordagens terapêuticas nas comunidades de acordo com infraestrutura e necessidades locais.
DOENÇA
Não há cura para a DPOC, mas o tratamento pode aliviar sintomas, diminuir as chances de hospitalização e recuperar a qualidade de vida, uma vez que a patologia é progressiva e incapacitante. Mais da metade dos pacientes com DPOC, atualmente a quarta principal causa de morte do mundo, desconhece que tem a doença e não está em tratamento. A melhoria do acesso aos cuidados de saúde e a identificação de abordagens financeiramente eficazes para detecção precoce, combate ao tabagismo e práticas de reabilitação pulmonar para portadores de DPOC fazem parte das quatro prioridades globais da Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação às doenças não transmissíveis.