Publicado em: 30/05/2014
O Ambulatório de Oncologia Pediátrica da Faculdade de Medicina do ABC acaba de dar início ao trabalho de Pet Terapia junto às crianças em tratamento. Na manhã de 15 de maio, a ONG Instituto MAPAA – Meio Ambiente e Proteção Animal, por meio do Projeto Cão Amigo, esteve no local para palestra aos pais sobre o programa e para apresentar a grande atração do trabalho, o golden retriever Vinny. Desde muito cedo a expectativa era grande e durou até a chegada do cão-terapeuta, momento em que a alegria tomou conta do ambiente de tratamento.
“A quimioterapia deixa a vida em tom de bege. A presença do cão no ambulatório nos dá apoio, desperta o amor das crianças pelo animal. Elas saem do tratamento empolgadas, falando do cachorro e não do tratamento ou que estão enjoadas”, relata Ricardo Rogério Cardoso, pai do pequeno Pedro, de 6 anos, que desde antes dos 3 anos está em tratamento contra o tipo de câncer TCG. Segundo Ricardo, assimilar o diagnóstico e adaptar-se à ideia do tratamento foi muito difícil para a família, principalmente no início. “A gente perde o chão. Todo o amor que sentimos pelo nosso filho mistura-se com o sentimento de preocupação, bagunçando completamente nossa cabeça. Ficamos tensos, apreensivos e ansiosos para que a doença vá embora logo. Por isso, num contexto como esse, quanto mais iniciativas como a Pet Terapia estiverem disponíveis, melhor. São ações que amenizam o tratamento e que continuam a fazer bem mesmo depois que deixamos o ambulatório e vamos para casa”.
O pequeno Pedro foi certamente quem mais se empolgou com a presença de Vinny no ambulatório e “sugeriu” a ampliação da Pet Terapia, ao perguntar ao pai se poderia levar sua gata, Valentina, na próxima visita à Oncopediatria.
Outra criança que não conteve a alegria foi Juliana, também de 6 anos, que interagiu com o golden retriever até mesmo durante a infusão de quimioterapia. Há cerca de 3 anos a pequena paciente trata um câncer de adrenal. “Ela tem uma gata em casa e adora animais. É bárbara essa ideia de trazer um cachorro para dentro do ambulatório, durante o tratamento”, considera Magnólia Alves da Costa, avó de Juliana.
De acordo com o médico coordenador do Ambulatório de Oncopediatria da FMABC, Dr. Jairo Cartum, a Pet Terapia é iniciativa de humanização que vai além do lúdico, com benefícios reais à saúde dos pacientes. “A humanização é tudo. Se o paciente está feliz, ele encara a doença de uma forma melhor, não falta às consultas e responde bem aos tratamentos. Para a equipe terapêutica, gera sensibilidade e motivação”, garante o oncologista pediátrico.
Humanização em dose dupla
A parceria com a ONG Instituto MAPAA contempla visitas quinzenais ao Ambulatório de Oncologia Pediátrica da FMABC. A entidade já atuava em moradias provisórias de crianças com câncer em tratamento e asilos, mas é a primeira vez que desenvolve trabalho dentro do ambiente terapêutico. “Todos os cães são vacinados, passam periodicamente com veterinário e tomam banho semanalmente, sempre antes da visita”, descreve a coordenadora do Projeto Cão Amigo da MAPAA, Liliane Reis de Barcellos, que acrescenta: “A Oncopediatria da Faculdade de Medicina do ABC é a primeira unidade assistencial que atuamos e a expectativa é muito boa. É um desafio diferente e esperamos conseguir tirar o foco de pacientes e acompanhantes do tratamento, diminuindo a ansiedade e o sofrimento através de momentos de descontração”.
Além da MAPPA, a ONG CãoAmor também integrará a Pet Terapia da FMABC com visita mensal. A entidade desenvolve a terapia assistida por animais no Hospital Municipal Irmã Dulce de Praia Grande – unidade administrada pela Fundação do ABC, que há mais de 5 anos conta com a Pet Terapia. “Além da raça compatível para a atuação na área de saúde, os cães-terapeutas precisam ter perfil adequado, receber adestramento específico e estar com a saúde em perfeitas condições”, explica Eliane Selma do Valle Blanco, fonoaudióloga do Hospital Irmã Dulce.
Entre os benefícios da Pet Terapia estão efeito calmante e antidepressivo, estímulo à integração social e elevação da autoestima do paciente, já que desvia o foco da tensão emocional, dor e estresse de internação ou tratamento. Estudos também apontam redução da pressão sanguínea e cardíaca, melhoria do sistema imunológico e do bem-estar geral.
Recentemente a ONG CãoAmor ampliou a participação no “Irmã Dulce” graças à doação de oito cães da raça golden retriever pelo canil Golden Trip. “São machos, fêmeas e filhotes, com idades entre 10 meses e quatro anos”, cita a presidente da CãoAmor, Danielle Gravina Calasans, que considera “a raça especial, que se destaca para o trabalho de pet terapia”. Hoje participam da humanização em Praia Grande os cães Limit, da raça collie, Benjamin e Satine, golden retrievers, e Maya, uma poodle. As visitas são monitoradas e ocorrem sempre as quartas-feiras.
Na Faculdade de Medicina do ABC, a Pet Terapia é coordenada pela terapeuta ocupacional voluntária, Paula Montanari Mergel, que é formada pela própria FMABC. “Esperamos que esse trabalho aumente o ‘gás’ de crianças e familiares para enfrentar o tratamento e melhore a socialização entre usuários e funcionários do serviço. É importante que o local de tratamento não seja visto como um ambiente de sofrimento e por isso buscamos esse tipo de humanização”, justifica Mergel.
Referência nacional
Considerado referência nacional para tratamento de câncer infanto-juvenil, o Ambulatório de Oncologia Pediátrica da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC tem atualmente cerca de 20 crianças em quimioterapia e realiza média de 200 consultas mensais. Com serviços 100% gratuitos, o local recebe pacientes de todo o país e tem como retaguarda para hospedagem a Casa Ronald ABC, instalada no campus da faculdade e que oferece alojamento, higiene e alimentação para a criança em tratamento e respectivo acompanhante.
Acolhendo casos diagnosticados desde a fase intrauterina até adolescentes com até 18 anos, o Ambulatório de Oncologia Pediátrica oferece atendimento integral e multidisciplinar, com equipe composta por médicos, enfermeiros e psicólogos, além de dentista, assistente social, nutricionista, fonoaudiólogo e farmacêutico responsável. O serviço conta com apoio da Associação de Voluntárias para o Combate ao Câncer do ABC (AVCC), cujas integrantes auxiliam na humanização do ambiente terapêutico, apoio às famílias e suporte social com entrega de cestas básicas, medicações, próteses e perucas, entre outros itens.
Casos que necessitam internação são encaminhados ao Hospital Estadual Mário Covas de Santo André, unidade de retaguarda e hospital-escola da FMABC.
Elevado índice de cura
Pesquisas apontam que o câncer infantil atinge uma em cada 600 crianças. As leucemias são as mais frequentes, representando aproximadamente 1/3 dos casos. Tumores cerebrais correspondem a cerca de 20% dos casos, enquanto linfomas detêm 15%. A boa notícia é que, diferente do público adulto, a taxa de cura em crianças chega a 70%. Os tratamentos têm duração média de 1 ano e o acompanhamento é por toda a vida.
As terapias são individualizadas e variam de criança para criança. De forma geral, tumores sólidos são tratados com cirurgia, seguida de quimioterapia ou radioterapia. Já a abordagem em linfomas e leucemias é com quimioterapia e, em último caso, com transplante. “Independentemente do caso, o diagnóstico precoce é fundamental. Quanto mais cedo identificado o problema, mais leve será a terapia. As medidas adotadas em casos avançados geralmente são mais agressivas, com medicações mais fortes e em doses maiores, aumentando os efeitos colaterais”, alerta o coordenador do Ambulatório de Oncologia Pediátrica da FMABC, Dr. Jairo Cartum, que aconselha: “O mais importante é que os pais levem seus filhos periodicamente ao pediatra para consultas de rotina. Esse profissional está apto a identificar possíveis sinais de câncer e a encaminhar para um serviço especializado em oncologia infantil”.