Paciente de São Bernardo ganha prêmio nacional

Publicado em: 06/03/2015

Durante os almoços de domingo, quando a família de origem italiana se reunia, a pequena Rubia Mara Sabatini gostava de observar as conversas dos pais e dos tios. Com um pedaço de papel e uma caneta, ela reproduzia as frases e depois mostrava aos adultos, que riam do que haviam dito.

Rubia acredita que foi nesse período que adquiriu a paixão pela leitura e pela escrita. Paciente do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Centro, da rede de Saúde de São Bernardo, ela foi uma das vencedoras da sétima edição do prêmio “Arthur Bispo do Rosário”, na categoria “Contos, Crônicas e Textos”.

O texto “Ser ou não Ser?” foi escrito durante oficina de jornais no CAPS Centro, como forma de homenagear um dos pacientes que havia falecido. “Nos deram o tema e eu escrevi. Nunca imaginei que seria premiada por conta disso”, disse a autora.

Ela afirma não ter tido contato com o paciente homenageado no texto, mas a sensibilidade de quem questiona se a vida no plano terreno valeu a pena.

Tímida e, portanto, de poucas palavras, em um primeiro momento Rubia não queria se inscrever no prêmio, pois não estava muito confiante. “Não achava que poderia ganhar. Mas venci”, se envaidece.

Ela afirma que mais do que a escrita, sua paixão é a leitura, pois é uma das formas de buscar inspiração. “O primeiro livro que li foi “Cazuza”, de Viriato Correia, e depois não parei mais. Até hoje leio tudo o que posso”.

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO

O sergipano Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) foi internado no dia 25 de janeiro de 1939 na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Viveu cinco décadas ali. Na Colônia, produzia mantos e estandartes, bordados e miniaturas recobertos por fio azul, que obtinha desfiando o uniforme usado pelos internos. No início dos anos 60, morou isolado no sótão e desenvolveu grande parte de sua produção. Durante os 25 anos ininterruptos que passou sem sair do manicômio, produziu 804 obras.

É considerado um artista de vanguarda, criador de objetos tridimensionais e precursor do que viria a se chamar instalação. Suas obras já foram expostas em grandes museus do Brasil e do mundo.

O prêmio, que tem ainda mais cinco categorias, visa homenagear o artista, que mesmo em condições adversas, tornou-se referência para o mundo das artes.

No prêmio, não há uma classificação e os cinco primeiros de cada categoria recebem valor em dinheiro e outros cinco recebem menção honrosa.