Publicado em: 07/04/2017
Fruto da parceria entre as disciplinas de Dermatologia e Oncologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), o Ambulatório de Reabilitação Dermatocosmiátrica para Pacientes Oncológicos completou 13 anos de atividades em 5 de abril. Para marcar a data, foi realizado encontro das 8h às 12h30 entre atuais usuários do serviço e pacientes mais antigos, que já superaram o câncer, mas que durante o tratamento tiveram acesso aos benefícios deste trabalho. O evento contou com palestras motivacionais e de suporte dermatológico aos pacientes oncológicos, além da participação de especialistas em maquiagem, depilação, manicure e uso de lenços.
Com raras citações sobre a temática na literatura médica até a implantação do serviço na Faculdade de Medicina do ABC, em 2004, o Ambulatório de Reabilitação Dermatocosmiátrica para Pacientes Oncológicos tornou-se pioneiro nacional e internacionalmente. O objetivo do trabalho é melhorar a qualidade de vida e diminuir o grau de sofrimento dos pacientes ao minimizar efeitos colaterais dos tratamentos e aumentar a autoestima. O local oferece atendimento dermatológico e cosmiátrico gratuito e integral aos pacientes, abordando prevenção, correção e camuflagem (quando não é possível corrigir) de alterações decorrentes de procedimentos cirúrgicos, da quimioterapia e da radioterapia.
Além da queda de cabelos, pacientes em quimioterapia ou radioterapia também enfrentam problemas como ganho de peso, manchas na pele e alterações nas unhas, além de infecções virais e bacterianas, como verrugas e herpes, devido à queda de imunidade. Geralmente os dermatologistas evitam iniciar tratamentos, com receio de interferir na terapia oncológica.
“Nossa ideia é exatamente oposta. Atendemos os pacientes durante o tratamento do câncer, pois esse é o período em que eles mais sofrem. É Justamente nesse momento que precisam de suporte dermatológico para minimizar efeitos colaterais, melhorar a autoestima e buscar forças para seguir em frente”, explica a Dra. Dolores Gonzalez Fabra, dermatologista responsável pelo ambulatório da FMABC e pioneira no país nas pesquisas relacionadas à reabilitação dermatológica de pacientes com câncer.
ATENÇÃO DIFERENCIADA
O Ambulatório de Reabilitação Dermatocosmiátrica para Pacientes Oncológicos da FMABC funciona às quartas-feiras, das 12h às 17h, no campus universitário em Santo André. Os atendimentos são agendados mediante encaminhamento dos pacientes pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e hospitais da região do ABC.
“Até pouco tempo, a preocupação do médico era somente com a cura do câncer. Hoje leva-se em consideração a qualidade de vida e o bem-estar desses pacientes antes, durante e após o tratamento oncológico. Procuramos dar assistência integral e minimizar sequelas físicas e emocionais”, detalha Dra. Dolores Fabra.
Além do atendimento dermatológico, a assistência no ambulatório também contempla a área estética, com ensino de técnicas de maquiagem e camuflagem, além da realização de dermopigmentação – um tipo de tatuagem. O serviço conta com apoio das voluntárias da ONG Viva Melhor, que auxiliam na captação de doações de perucas, unhas postiças, sutiãs com enchimento e maquiagens.
São diversos tipos de atendimento oferecidos no local. No caso de queda de cabelos, por exemplo, é realizada terapia preventiva antes e durante as sessões de quimioterapia, o que facilita o crescimento capilar posteriormente. Também há empréstimo de perucas. Para a queda de sobrancelhas, há opção de tatuagem provisória para camuflagem até o término do tratamento quimioterápico, quando os pelos voltam a crescer.
Para cicatrizes resultantes de cirurgias, além de tratamentos dermatológicos para prevenção de queloides, o ambulatório orienta para o uso correto de técnicas de camuflagem. Também oferece opção de tatuagem definitiva – para a aréola da mama, por exemplo –, com excelentes resultados após a reconstrução.
“Temos muitos casos de alterações de unha causadas por micose ou pela própria quimioterapia. Por essa razão, realizamos tratamento dermatológico preventivo”, acrescenta a coordenadora do ambulatório, que completa: “Durante o tratamento do câncer, alguns pacientes ganham peso e ficam com muitas estrias. Nesses casos, o tratamento adotado também é preventivo, à base de cremes, o que não impede o aparecimento, mas faz com que as estrias sejam menos agressivas, facilitando o tratamento posterior. Além disso, a queixa de ressecamento da pele é bastante recorrente, passível de tratamento e com excelentes resultados”.
MAIS PESQUISAS
Além da assistência, outro objetivo do ambulatório é o desenvolvimento de pesquisas, estudos clínicos e de literatura médica. “Procuramos desenvolver uma dermatologia específica para pacientes oncológicos, que até o momento ainda não existe. Desde a abertura do ambulatório, em 2004, temos avançado muito nos estudos e tratamentos oferecidos aos pacientes, com resultados bastante significativos. Ao longo dos anos, temos buscado sensibilizar a indústria farmacêutica para o desenvolvimento de produtos dermatológicos apropriados para os pacientes com câncer. Essa é uma área ainda pouco explorada, na qual temos a expertise de mais de 1.000 pacientes cadastrados no ambulatório, além de um departamento de pesquisa clínica de primeiro mundo na faculdade”, revela Dra. Dolores Fabra.