Publicado em: 19/05/2017
A Prefeitura de Santo André e a Faculdade de Medicina do ABC deram início a projeto conjunto para chamar a atenção de profissionais da Atenção Básica para a suspeita de problemas de imunidade. A professora de Imunologia Clínica da FMABC, Dra. Anete Sevciovic Grumach, fará visitas a unidades de saúde para conversar com as equipes assistenciais, discutir conceitos de baixa imunidade e orientar sobre sinais e sintomas que possam indicar a necessidade de investigações mais aprofundadas, como episódios recorrentes de amigdalite, pneumonia, otite, resfriado e sinusite, entre outras doenças. Até mesmo verrugas disseminadas podem ocorrer com a baixa imunidade.
A primeira visita ocorreu em 26 de abril, na Unidade de Saúde Jardim Irene. Outras quatro unidades de saúde de Santo André já estão na programação. “A ideia é conversar de maneira informal com médicos, equipes de enfermagem, agentes de saúde e demais profissionais que atuam na linha de frente, na Atenção Básica, a fim de discutir o que é e o que não é baixa imunidade. Esse tipo de percepção é fundamental, pois existem infecções de repetição que são sintomas de defeitos imunológicos, geralmente de diagnóstico tardio, e que exigem tratamento adequado”, alerta Dra. Anete Grumach, que acrescenta: “Essas enfermidades podem ser congênitas – quando o indivíduo nasce com esse defeito – e geneticamente determinadas, causando a repetição de infecções como pneumonia, meningite e abscessos sem que o portador saiba o motivo”.
Para a investigação e tratamento dos casos, a Faculdade de Medicina do ABC desenvolve o Ambulatório de Infecções de Repetição – o único serviço público do Grande ABC destinado à investigação imunológica de pacientes que apresentam infecções recorrentes. “A partir de consultas especializadas e exames, temos subsídios para diagnosticar as causas da deficiência imunológica responsável pela manifestação constante das doenças. Existem pacientes que passam anos tendo infecções de repetição sem o diagnóstico correto da causa. Frequentemente encontramos casos de pessoas com 3 a 4 episódios de pneumonia por ano e que não fazem nenhum tipo de tratamento preventivo, até porque desconhecem sua deficiência imunológica”, detalha Dra. Anete Grumach.
As vagas para passar em atendimento na Faculdade de Medicina do ABC são disponibilizadas aos municípios do Grande ABC, que coordenam o encaminhamento dos pacientes através das unidades de saúde locais.
INFECÇÕES DE REPETIÇÃO
As infecções, em geral, correspondem a até 87% das doenças em adultos, 73% em crianças e a 28% das consultas de emergência. Quando aparecem de maneira recorrente, caracterizam-se as infecções de repetição. A grande preocupação é porque aproximadamente 10% das crianças com infecção de repetição desenvolvem o problema em consequência da chamada imunodeficiência primária. Contando também o público adulto, estima-se que 1 em cada 2 mil indivíduos são imunodeficientes.
A literatura médica já descreveu mais de 300 tipos de imunodeficiências primárias, que são deficiências do sistema imunológico. Hoje, os estudos buscam descobrir quais as falhas genéticas e oferecer alternativas para que os pacientes tenham boa qualidade de vida e fiquem mais protegidos das infecções.
“As infecções de repetição decorrentes de defeitos genéticos têm evolução incomum e ocorrem com frequência maior do que a usual. Dessa forma, pediatras e clínicos devem reunir condições para desconfiar que tais infecções não são comuns. Precisam saber a diferença entre um evento normal e quando não é somente um resfriado de repetição”, exemplifica a professora de Imunologia Clínica da FMABC, que completa: “É importante lembrar que outras condições que não estão descritas como infecções, mas como doenças autoimunes ou febres recorrentes sem causa, também podem ser sintomas de imunodeficiências primárias. Além disso, não são doenças somente da infância e podem surgir em adultos”.
A fim de conscientizar a população para a prevenção, a fundação norte-americana Jeffrey Modell e a Cruz Vermelha Americana definiram 10 itens considerados “Sinais de Alarme” para a suspeita de imunodeficiência primária:
– 8 ou mais infecções de ouvido por ano.
– 2 ou mais sinusites por ano.
– Uso frequente de antibióticos sem melhora.
– 2 ou mais pneumonias por ano.
– Déficit no ganho de peso e no crescimento.
– Abscessos de repetição.
– Candidíase persistente na boca e na pele (em maiores de um ano de idade).
– Necessidade de antibiótico endovenoso para infecções.
– 2 ou mais infecções graves, como meningite, celulite, osteomielite ou septicemia.
– História familiar de infecções de repetição ou que lembre imunodeficiência primária.