Recuperação de pacientes com Covid-19 mostra resultados positivos no Hospital Mário Covas

Publicado em: 28/05/2020

Percentual de recuperação de pacientes entubados indica resultados promissores em comparação à experiência de outros países

 

Em ação de humanização do hospital, pacientes podem conversar com familiares por tablet fornecido pela unidade

O Hospital Estadual Mário Covas (HEMC) de Santo André apresenta resultados positivos no tratamento de pacientes contaminados com a Covid-19, especialmente no grupo de maior risco de morte, os que necessitam de entubação. Dois recentes estudos publicados no Journal of American Medical Association (JAMA) dão a medida do bom desempenho do hospital: durante uma fase semelhante na evolução da pandemia foi reportada na região de Nova York, nos Estados Unidos, mortalidade de 88% neste subgrupo; na região da Lombardia, norte da Itália, a taxa foi de 26%. A última atualização dos dados do Hospital Mário Covas registra mortalidade de 23% em pacientes com o mesmo perfil de gravidade, considerando o período de 15 de março a 6 de maio.

O diretor técnico do HEMC, Dr. Alexandre Cruz Henriques, destaca os desafios para preparar as equipes multidisciplinares e organizar o isolamento das áreas. “O hospital não interrompeu suas atividades no atendimento de casos de alta complexidade e passou a atender as urgências de casos de Covid-19. Apesar do pouco tempo de adaptação à pandemia, estamos conseguindo bons resultados, considerando-se o grave estado de saúde dos pacientes. Os bons índices de recuperação dos pacientes entubados é recompensador para todos nós envolvidos diretamente em salvar vidas”, considera.

Referência em alta complexidade na região, o HEMC foi escolhido pela Secretaria de Estado da Saúde como referência para tratamento de Covid-19 na região do Grande ABC. Ciente deste cenário desafiador, o Comitê de Crise criado pelo diretor-geral da unidade, Dr. Desiré Carlos Callegari, destinou 41 leitos de terapia intensiva e 48 leitos em duas enfermarias exclusivas para pacientes diagnosticados com a doença. Graças ao envolvimento da direção e de todos os colaboradores, foi criada, ainda, uma cadeia de cuidados específicos para casos de Covid-19, que conta com métodos exclusivos de diagnóstico.

De acordo com o coordenador clínico de cuidados de Covid-19 na unidade, Dr. Caio Fernandes, apesar da imprevisibilidade do comportamento futuro da crise e do perfil de gravidade dos pacientes atendidos, os resultados constatados nos primeiros dois meses de enfrentamento são animadores. Nesse período foram analisados casos de 90 pacientes. Destes, 27 receberam alta, 39 estão em recuperação e 24 foram a óbito, sendo 21 em UTI.

Do total de casos analisados, 95% passaram por internação em UTI e 93% foram entubados. Como agravante, 40% desses pacientes necessitaram de hemodiálise. Estudos internacionais mostram que o índice de falência renal grave que demanda este tipo de tratamento foi de cerca de 5%, indicando perfil de gravidade extremamente alto. Apesar disso, o período médio de internação nas UTIs destes pacientes no HEMC foi de 13 dias.

Além de sua missão assistencial, a unidade participa ativamente do desenvolvimento de pesquisas dedicadas ao enfrentamento da pandemia. “Em época de fake news e desorientação, os estudos multicêntricos colaborativos são a melhor oportunidade para pesquisadores brasileiros contribuírem com respostas relevantes, rápidas e de qualidade às dúvidas que envolvem a prevenção e o tratamento da Covid-19. Atualmente desenvolvemos cinco ensaios clínicos randomizados com diferentes tratamentos para todas as suas fases de gravidades da doença. Investigaremos, também, a suscetibilidade individual à forma mais grave da infecção por meio de análise genética”, analisa Dr. Caio Fernandes.

De acordo com a diretora de Enfermagem, Maria Elisa Ramos, o atendimento humanizado sempre foi priorizado. Informações do quadro clínico de cada paciente são atualizadas diariamente por telefone e sempre que possível o contato familiar é estabelecido com o doente através de videoconferência feita por tablets.

Os resultados obtidos até o momento são atribuídos pelo diretor-geral, Dr. Desiré Carlos Callegari, ao empenho dos colaboradores. “Com base na complexidade da situação e no enfrentamento de um inimigo desconhecido, nos mobilizamos para todas as mudanças necessárias com o objetivo de adequar as unidades de terapia intensiva e enfermarias para os pacientes. O principal desafio foi prepará-las para a pandemia em poucos dias. Reuniões e avaliações diárias, inclusive com a criação de um comitê de crise com integrantes de todos os setores, nos deu a flexibilidade e agilidade para tratar de todas as questões que o momento nos impôs”, conclui Callegari.